Após conflitos e divisões, presidente da Câmara marca para hoje sessão que deverá dar seguimento ao trâmite do impeachment
Daniel Carvalho
Daiene Cardoso
Igor Gadelha
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), adiou para a tarde de hoje a votação dos integrantes da comissão especial que decidirá pela procedência ou arquivamento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Disputas internas nas bancadas de partidos como o PMDB provocaram a criação de uma chapa avulsa com nomes mais oposicionistas e o consequente adiamento.
A polêmica reaproximou a oposição de Cunha. Governistas se revoltaram com a postergação e acusam o presidente da Câmara de manobrar para inviabilizar a sessão do Conselho de Ética, marcada para o mesmo horário da votação.
O adiamento aumenta o desgaste do governo, que fica mais tempo sob exposição. Inicialmente, havería só uma chapa. Líderes partidários indicariam um total de 65 nomes até as i4h de ontem e, às 18h, havería a votação apenas para referendar os nomes escolhidos. O prazo para indicações já havia sido dilatado em seis horas.
O líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), apresentou ontem, informalmente, nomes para preencher cinco das oito vagas a que o partido tem direito. A lista era formada majoritariamente por deputados com tendência governista; Hildo Rocha (MA), João Arruda (PR), José Priante (PA), Washington Reis (RJ), além do próprio Picciani.
A composição contrária ao impeachment irritou a ala oposicionista da legenda, que procurou a oposição para que compusessem uma nova chapa, que incluísse também dissidentes de outros partidos da base.
“O PMDB não fez uma reunião sobre o tema. A reunião que houve foi feita no Palácio do Planalto com a presidente Dilma. O líder Picciani terceirizou a liderança do partido à presidente Dilma”, disse Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
A revolta com a indicação de líderes atingiu também outras legendas governistas, como o PSD. Os dissidentes do partido já indicaram nomes para integrar a chapa alternativa: Sóstenes Cavalcante (RJ), João Rodrigues (SC), Evandro Roman (PR) e Alexandre Serfiotis (RJ).
“Ê lamentável que o governo federal queira estuprar a liberdade dos partidos impondo que eles coloquem chapa branca na comissão especial”, disse Sóstenes Cavalcante.
Com o impasse criado pelas discussões internas, Cunha anunciou aos líderes que a sessão seria adiada para as 14I1 de hoje. Interlocutores do peemedebista contabilizam que a chapa avulsa contará com indicações de, além de PMDB e PSD, PP, PEN, PMB, PHS, PSDB, SD, DEM, PPS. Eles ainda tentam atrair nomes de PTB, PRB e PSB e diziam já ter 23 nomes no início da noite de ontem.
“A oposição não tem força suficiente para aprovar o impeachment. A gente precisa da colaboração de dissidentes”, disse o líder do DEM, Mendonça Filho (PE). Cada chapa precisa ter, no mínimo, 33 integrantes. Se a chapa vencedora não tiver 65 membros, novas indicações são feitas para preencher as vagas remanescentes. Estes nomes retardatários serão submetidos a votação suplementar, o que deve atrasar ainda mais a instalação da comissão.
O adiamento revoltou líderes da base aliada, pois o Planalto tem pressa em votar o impeachment, evitando o desgaste de mobilizações de ma. O líder do governo, José Guimarães (PT-CE), referiu-se à chapa avulsa como “chapa fria”. “Isso é malandragem”, disse. O líder do PT, Sibá Machado (AC), disse estar pronto para a “guerra”. “Isso arrebenta com qualquer possibilidade de relação aqui dentro. É inaceitável. Não é mínimo do campo democrático. O processo já começa super contaminado. Acho que tem o dedo dos tucanos para criar problema”,afirmou. “Tem uma guerra e vamos para ela do jeito que ela vier”.
Para a líder do PC do B, Jandira Feghali (RJ), Cunha manobrou para que a votação da comissão coincida com a do Conselho de Ética, quando será votado o parecer preliminar pela continuidade do processo contra o peemedebista. “É bom que a gente fique atento às três manobras: adiar a comissão, construir uma chapa avulsa em acordo com a oposição e adiar a reunião do Conselho de Ética onde ele é a pauta”, afirmou.
Cunha negou a acusação e disse que a sessão seria adiada inevitavelmente por falta de quórum e necessidade adaptar as urnas de votação à realidade de duas chapas concorrentes. “Não estou criando sessão na hora do Conselho de Ética. O Conselho de Ética é que marcou a hora na hora da sessão ordinária. Se possível, espero a deliberação. Não há nenhum intuito de impedir qualquer reunião do Conselho de Ética da nossa parte. Se mio tivesse reunião do Conselho de Ética, provavelmente eu convocaria sessão extraordinária primeiro, com a pauta da eleição.”