Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, é fato que o mundo se tornou outro, depois que as fronteiras da tecnologia foram largamente ampliadas. Temos muita praticidade, e o mundo a um clique é bastante vantajoso. No entanto, como em tudo que se opera nos extremos, estamos contemplando uma nova forma de escravidão, um novo vício e também um desequilíbrio.
Uma das grandes defensoras do uso da tecnologia sem reservas, há algumas semanas, voltou atrás em seu discurso e passou a questionar aquilo que ela sempre defendeu com unhas e dentes. A socióloga e ciberantropóloga Amber Case, em entrevista para a revista Telos, mencionou o fato de que os humanos estão deixando coisas importantes demais nas mãos da tecnologia, tais como a capacidade de memorizar, de recordar, de se comunicar, de estabelecer empatia.
Na atualidade, as pessoas não conseguem dar muitos passos pela rua sem estar com a cara enfiada no aparelho celular. Não comem mais num restaurante, sem passar os olhos pela tela do telefone. Qualquer postagem de qualquer pessoa nas redes sociais chama mais atenção do que o prato de comida, o sinal do trânsito ou a pessoa que se senta à nossa frente num café, por exemplo.
Segundo Case, a tecnologia não é ruim, mas seu uso está nos desconectando e escravizando. Chegamos a olhar o celular entre 1 mil a 2 mil vezes por dia, algo como o celular substituindo o cigarro, poderíamos assegurar. O cérebro sofre com a conexão constante, e os casos de isolamento, depressão e ansiedade aumentam muito.
É importante para a saúde ter domínio próprio suficiente para desligar o celular por algumas horas, para deixá-lo em casa de vez em quando, para nos conectarmos com a natureza e o mundo real à nossa volta.
Precisamos reaprender a utilizar a tecnologia de maneira tranquila, dedicando tempo a nós mesmos, algo como meditar, desenhar, escrever e não tomar o dia com notificações do telefone ou do computador.
Como não existe um código de conduta com relação à tecnologia, mesmo depois de trabalharmos por longos períodos em nossos escritórios, continuamos trabalhando no trajeto para casa, em casa, durante o período de descanso.
Passamos a estar disponíveis tempo integral. A sociedade começa a exigir isso. Então, a solução é que nós mesmos passemos a ditar as regras de uso para a tecnologia, passando um bom período de tempo desconectados e concentrados em outras coisas, tais como nos relacionarmos com pessoas presencialmente.
Desligar o celular pode ser um hábito bastante saudável e pode realmente ser um curativo para muitos dos males da modernidade. Se não queremos ser massivamente manipulados, precisamos valorizar o nosso tempo de descanso e utilizá-lo com coisas reais e mais palpáveis do que um clique.