Impossível ser brasileiro e não se emocionar ao ouvir o Hino Nacional cantado à capela pela torcida que lota os estádios a cada jogo da seleção canarinho nesta Copa do Mundo. Canto também, diante da tevê, e imagino como seria formidável se este valioso patriotismo impregnasse as entranhas do povo no cotidiano.
Movida pelo amor incondicional à Nação, a população teria em suas mãos o inimaginável poder de sepultar práticas nocivas, defender seus direitos, disseminar atos de bondade e cobrar seus representantes. Mais do que isto, construiria, dia após dia, uma sociedade melhor, justa e mais fraterna. Efetivamente livre de desigualdades e preconceitos; absolutamente respeitosa com a diversidade.
Filho e neto de imigrantes japoneses, desde a infância, recebi dos meus ancestrais a missão de amar este país, de todo coração, ajudar o povo em tudo o que for possível e fazer mais pelo Brasil que os próprios brasileiros. Mais do que palavras na mente da criança que fui, são princípios gravados na alma do homem que sou. É um legado cultural e espiritual que não tem preço e precisa ser perpetuado.
Por ocasião dos 106 anos de imigração japonesa no Brasil, comemorados em 18 de junho, reflito sobre como seria providencial transmitir às pessoas um pouco do legado dos nipônicos. Falo de dignidade, patriotismo, responsabilidade, trabalho duro, disciplina, respeito, ética, moralidade e amor ao próximo. É no lar que começa o processo de formação do cidadão, daquilo que ele classifica como certo e errado, de suas crenças e filosofia de vida.
A prática cotidiana desses ensinamentos é o melhor instrumental para ajudar a resolver os graves problemas que o país enfrenta, como os altos índices de violência, greves com vandalismo, crime organizado, drogas, corrupção, o preocupante desequilíbrio econômico com o retorno da inflação, ausência de infraestrutura, alta tributação e a falta de qualificação pessoal e profissional, que inibem a competitividade das empresas nacionais no atual mundo globalizado.
A língua japonesa acolhe expressões de profundo significado, que traduzem bem a formação cultural do povo nipônico e funcionam como bússola para nortear a postura do ser humano no lar e na sociedade. Aí vão algumas e seus respectivos significados: gaman (suportar, resistir), shimbô (paciência), kyoroku (solidariedade), shinyô (credibilidade), doryoku (trabalho), sekinin (responsabilidade), yakussoku (compromisso), seikaku (pontualidade), kenson (humildade), mudanishinai (não desperdiçar), okague sama (graças a Deus), gambarê (avante), Oya kôkô (amor aos pais), kansha (gratidão) e aijô (amor).
Interpretados com a força das ações que representam, esses conceitos fariam toda a diferença em nosso país, convertendo nossa energia e talento em atitudes para vencer as dificuldades. Mais do que honrar os ancestrais, a incorporação desse legado tornaria melhor e mais promissor o futuro dos nossos descendentes. Assim, estaríamos cantando o Hino Nacional à capela o tempo todo. Não só na Copa.
*Junji Abe é deputado federal pelo PSD-SP