Pesquisa divulgada nesta semana pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que 63,4% das famílias brasileiras estavam endividadas neste mês. O índice supera em 1,2 ponto percentual o registro de dezembro (62,2%) e é maior que o verificado em janeiro de 2013 (60,2%). O levantamento considera dívidas com cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, empréstimo pessoal, prestação de carro e seguro.
No âmbito público, a situação também passa longe de ser confortável. Dos 5.570 municípios brasileiros, 3,2 mil não conseguiram fechar suas contas em 2013, em função da queda nos repasses do governo federal. A redução da carga tributária sobre vários produtos é estratégia da equipe presidencial para incentivar o consumo interno e tentar manter o equilíbrio da economia frente às crises internacionais que mutilam exportações. De um lado, facilita o acesso a bens como eletrodomésticos e automóveis. De outro, instala na população o desejo incontido do consumismo, além de rachar as finanças municipais.
O culto ao consumismo me preocupa, porque o endividamento é uma potente fonte de desagregação familiar, num momento em que o convívio em família precisa ser poderoso para superar a lástima das drogas e os rompantes de violência. Venho de uma educação rigorosa dada por uma família modesta. Do tipo em que não se compra um chinelo novo, enquanto não se acabar o velho. Ainda hoje, conservo a base desses ensinamentos e não sucumbo à massiva propaganda para compras cegas. Podem me chamar de pão-duro, mas jamais concordarei em me render à febre consumista. Seja em casa, seja no trabalho.
Muitos estouram cartões de crédito, acumulando dívidas que, em geral, são roladas para a próxima fatura ou colecionam carnês num total impagável diante da renda familiar. Dinheiro de plástico é muito útil, desde que se use com sabedoria e prudência. Ou seja, nada de pagar o valor mínimo. É preciso quitar o total.
Consumismo conduz à névoa densa do supérfluo que, quase sempre, gera desespero e distância cada vez maior do que realmente importa. De que adianta desfilar num carrão, se não dedica dez minutos para conversar com seu filho? Ou ainda, se não doa peças em desuso no seu armário?
Antes de comprar, reflita se realmente precisa daquilo. Na dúvida, não compre. Para diferenciar desejo de necessidade, tente uma experiência: faça uma boa refeição e vá ao supermercado. Verá que comprou só os itens da sua lista. É necessidade. Em outra oportunidade, volte ao local; porém, com fome. Terá enfiado de tudo no carrinho. É desejo.
*Junji Abe é deputado federal pelo PSD-SP