Walter Ihoshi*
Há mais de 20 anos, o Brasil não assistia a uma manifestação tão grande e intensa como esta que tem tomado capitais e dezenas de cidades do interior do país. O que começou como um movimento contra o reajuste das tarifas de ônibus se transformou num grande protesto, um grito de “basta” a tudo o que está errado no cenário brasileiro.
Pessoas de todas as idades, profissões e classes sociais têm ido às ruas soltar a insatisfação engasgada. As reclamações são as mais diversas: falta de investimento na saúde, transporte público de péssima qualidade, educação precária, gastos extraordinários com a Copa, corrupção, PEC 37, e por aí vai. Uma coisa é certa: os 20 centavos de aumento no preço do ônibus não são a única razão das passeatas. Eles foram, apenas, a gota d´água.
Os estudantes, principalmente, vão munidos de cartazes com frases contundentes, palavras pintadas no rosto, mas, sobretudo, de esperança de ver e viver um Brasil melhor. Os jovens são a maioria entre os manifestantes. É como se, de repente, eles redescobrissem o poder de sua voz. Olhassem para trás e relembrassem as Diretas Já ou a campanha pelo Impeachment de Collor – movimentos que aconteceram quando boa parte desses estudantes nem tinham nascido -, mas que mudaram o país para sempre.
A diferença entre as manifestações desta semana e de 20 anos atrás é a forma como elas foram organizadas e divulgadas. Os jovens que lideraram os protestos contaram com a ajuda da tecnologia, de uma ferramenta poderosa chamada rede social. Ela foi determinante para a multiplicação de adeptos ao movimento. Em questão de dias, milhares de pessoas deixaram seus compromissos de lado para reivindicar. As razões para tamanha adesão também estão escancaradas nas páginas da internet.
O brasileiro está cansado de pagar muito para ter pouco. Os 20 centavos não teriam causado tanta indignação e aborrecimento se o serviço oferecido pelas empresas de ônibus apresentasse melhoras, mesmo que gradativas. O cidadão não aguenta mais se sentir enganado. Ele quer mudanças, e o governo – seja ele federal, estadual ou municipal -, e mesmo nós, parlamentares, não podemos mais ignorar. Algo tem de ser feito.
Esta é uma situação inusitada para os políticos. Cabe a nós, agora, descobrir como resolver tantas reivindicações. A população merece respeito e respostas. Mas não uma resposta qualquer. Os brasileiros merecem novas atitudes por parte dos governantes, decisões e postura que os orgulhem. Uma maneira de governar que permita aos cidadãos dialogar e trazer os assuntos pertinentes ao Brasil para si. O brasileiro quer participar, opinar e ser ouvido, afinal, é ele quem conhece e enfrenta, todos os dias, as mazelas da má administração pública. Este é o primeiro passo rumo ao país que sonhamos. Dar voz ativa ao cidadão é deixar com que a democracia reine em sua plenitude.
Chegou a hora de se atentar, de fato, às reformas que precisam ser feitas, e que até agora não foram. Reduzir a carga tributária, priorizar os gastos, otimizar os investimentos, e planejar ações que beneficiem a população de forma concreta, em todas as áreas.
A Frente Parlamentar pela Desoneração dos Medicamentos, que presido em Brasília, vai ao encontro dos anseios dos brasileiros, ao buscar a redução dos tributos sobre os remédios vendidos no Brasil. Pagamos quase 34% de impostos sobre os medicamentos, e o resultado disso é que mais da metade da população não tem condições de comprá-los. A saúde é um direito garantido pela Constituição, e o acesso a remédios é fundamental para a sua manutenção.
Todos têm de fazer sua parte. A população está fazendo a sua: exercendo sua cidadania e exigindo dos políticos que os representem de verdade. Nós, da Frente Parlamentar, estamos empenhados em prestar nossa contribuição. Espero que as autoridades que ocupam o Poder Executivo também cumpram a sua.
*Walter Ihoshi é deputado federal pelo PSD-SP e presidente da Frente Parlamentar para a Desoneração dos Medicamentos