Marcelo Calero diz ter sofrido pressão do ministro para liberar obra.
Comissão de Ética da Presidência vai analisar o caso nesta segunda (20).
As acusações do ex-ministro da Cultura Marcelo Calero contra o titular da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, viraram assunto de conversas de deputados e senadores.
Parlamentares de oposição ao governo do presidente Michel Temer querem a demissão do ministro e prometem acionar o Ministério Público pedindo a investigação do caso. Governistas preferem aguardar os desdobramentos da situação e saem em defesa de Geddel.
Calero disse em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo” e confirmou posteriormente em um evento com artistas no Rio de Janeiro que o motivo principal de sua saída do governo foi a pressão que sofreu do titular da Secretaria de Governo para liberar um empreendimento imobiliário de luxo em Salvador no qual Geddel tinha comprado um apartamento.
O presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República, Mauro Menezes, afirmou que o colegiado vai analisar nesta segunda-feira (21) se abre ou não processo para investigar a conduta do ministro.
Ministro é alvo de denúncia de Calero
O líder do governo no Senado, Aloysio Nunes (PSDB-SP), disse ao G1 neste domingo (20) que prefere aguardar uma posição do Planalto antes de comentar o assunto, mas elogiou a atuação de Geddel como articulador político de Temer no Legislativo.
“Eu estou esperando a avaliação da Comissão de Ética da Presidência da República. Ele [Geddel] tem sido um excelente ministro no papel de interlocutor do governo no Congresso”, opinou Aloysio.
O líder do PTB, partido da base de Temer, Jovair Arantes (GO), também teceu elogios a Geddel e disse que fazer acusações no Brasil virou uma “doença”.
“Esse vaievém dessas acusações virou uma doença de as pessoas acusarem as outras, às vezes sem ter nenhuma certeza, então não dá pra saber [o que é verdade]. Geddel é um excelente ministro, interage muito bem com a Câmara”, declarou Jovair.
Aliado ao Planalto, o líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (PSD-DF), acredita que o assunto já “está superado”.
“O ministro Geddel já se manifestou. O Brasil tem problemas maiores que esse para resolver. Entendo ser um assunto superado. Não influenciará em nada o comportamento da base do governo nas votações no Congresso”, disse o deputado.
Já o líder do DEM no Senado, o governista Ronaldo Caiado (GO), criticou Calero por não ter falado antes sobre as supostas pressões que sofreu do ex-colega. Caiado também afirmou que Geddel “errou” ao procurar o ministro para tratar de um assunto particular.
“Se alguém vem com uma proposta indecorosa, incompatível com o cargo que a pessoa exerce, você deve dizer isso na hora. Isso de falar depois dá margem para uma dupla interpretação”, afirmou Caiado.
“Mas se o fato foi esse, é lógico que o ministro Geddel errou. Ele não poderia ter misturado as coisas. Ele poderia tocar no assunto se não tivesse nenhuma propriedade no prédio. No momento em que você tem propriedade no prédio, isso pode parecer para a opinião pública que você está se valendo do cargo para benefício próprio”, completou.
Caiado disse ainda que o assunto deve ser esclarecido rapidamente e que é responsabilidade de Temer decidir se afasta Geddel do governo.
Oposição Por outro lado, a oposição já se movimenta para fechar o cerco em torno do ministro da Secretaria de Governo. Geddel foi um dos principais articuladores políticos do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Neste sábado, o deputado Jorge Solla (PT-BA) afirmou, por meio de nota, que nesta segunda vai apresentar à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara um requerimento para convocar Marcelo Calero a prestar esclarecimentos sobre o episódio.
“É uma expressa acusação de crime de prevaricação […]. Se Calero acusou outro ministro ao sair, é um caso muito grave e precisa comprovar o que diz para que o caso tenha a consequência devida”, diz trecho da nota divulgada pelo deputado do PT.
O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), divulgou neste sábado um comunicado pedindo a demissão imediata de Geddel do primeiro escalão e informando que vai pedir a convocação de Geddel para que o ministro explique a denúncia no Senado. Além disso, o líder petista afirmou que irá solicitar que o Ministério Público Federal apure o caso.
“É escandaloso que um ministro extremamente poderoso dentro do governo, que trabalha na antessala de Temer, use do próprio cargo para coagir e ameaçar colegas em favor de interesses pessoais”, destacou o senador do PT.
O líder do PT na Câmara, Afonso Florence (BA), também quer a demissão de Geddel e disse que o governo de Temer “derreteu” ao lembrar outros episódios desfavoráveis, como a exoneração do senador Romero Jucá (PMDB-RR) do Ministério do Planejamento, após desdobramentos da Lava Jato, e a saída de Fábio Medina Osório da Advocacia-Geral da União depois de desentendimentos como o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.
“Não é só a história do Gedel, é a história do governo Temer. O governo Temer derreteu. O ministro demissionário [Calero] disse que falou para Temer e ele não tomou nenhuma providência […]. Geddel não tem mais condições de continuar no governo, ele tem que cair e o governo Temer também tem que cair”, disse o parlamentar baiano.