Rede e PSOL recorreram à Procuradoria-Geral da República para pedir o afastamento de Eduardo Cunha.
Uma nova rodada de manobras no Conselho de Ética da Câmara adiou a votação sobre a abertura de investigação contra o presidente da câmara, Eduardo Cunha, do PMDB. Pela sexta vez.
A sessão começou com dois pedidos para adiar a votação do parecer do relator Fausto Pinato, do PSDB, a favor da continuação do processo contra o presidente Eduardo Cunha. Cunha é suspeito de ter mentido na CPI da Petrobras, quando disse que não tinha contas bancárias no exterior.
Houve bate-boca, confusão. Placar: dez a dez. Os três deputados do PT, do PSDB e do Democratas votaram contra o adiamento. Os dois do PMDB, a favor de adiar. E o desempate ficou para o presidente do conselho, deputado José Carlos Araújo, do PSD.
Aliados de Cunha continuaram impedindo a votação. Tentaram até derrubar o presidente do conselho.
E mais uma surpresa: uma decisão assinada pelo primeiro vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão, também investigado na Operação Lava Jato, mandava afastar o relator Fausto Pinato. O argumento era que ele integra o mesmo bloco partidário de Eduardo Cunha e que, portanto, estava impedido. O presidente do conselho acatou a decisão.
O presidente do Conselho de Ética substituiu o relator por um deputado do PT, José Geraldo, que já declarou ser a favor da continuidade do processo contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Mas a tropa de choque de Cunha pressionou e conseguiu um novo sorteio de três nomes para relator. Mais confusão e tudo adiado para quinta-feira (10).
Não há clima para continuarmos com essa sessão. Acho que isso é golpe. E eu tenho que me submeter a esse tipo de coisa. Não podemos continuar numa casa que a cada instante a insegurança está instalada, a cada instante chega uma ordem diferente para se cumprir. Nós não somos meninos de escola, nós somos deputados e representamos a sociedade, representado o nosso estado, declarou o deputado José Carlos Araújo.
Leo de brito, do PT, Marcos Rogério, PDT, e Sergio Brito, do PSD, foram sorteados para relator. O presidente do conselho escolheu Marcos Rogério, que nesta quarta-feira (9) votou alinhado com Cunha para adiar a votação do parecer.
Deputados contrários a Cunha atacaram a manobra dos aliados dele. Disseram que o processo pode voltar à estaca zero, com novos prazos para a defesa.
Hoje passou dos limites. Nós estamos aqui tendo decisões de suspeição do presidente, troca de relator, manobras de toda a natureza. Nós não concordamos e eu vou levar isso a plenário e se for possível ao Supremo, ao procurador, disse o deputado Sandro Alex, do PPS-PR.
Nós estamos aqui numa ditadura do Eduardo Cunha, usando a máquina, tudo que ele tem, para intervir aqui dentro, afirmou o deputado Zé Geraldo, do PT-PA.
No Senado, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, também criticou os adiamentos no conselho: O PSDB já se manifestou pela continuidade do processo de investigação em relação ao presidente da Câmara dos Deputados e essa será nossa posição no plenário. Nós temos apenas dois votos no Conselho de Ética. Simplesmente nós não temos a maioria para decidir pelo conselho, mas eu registro que não é positivo para o parlamento essa postergação indefinida de um processo de tanta repercussão na sociedade brasileira, disse.
Cunha negou as manobras: Golpe é o que estavam fazendo, descumprindo o regimento.
Mais cedo, deputados do PSOL e da Rede levaram à Procuradoria-Geral da República uma nova representação pedindo o afastamento imediato de Eduardo Cunha.
Segundo o documento, Cunha foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e tem tomado atitudes que não condizem com o que se espera de uma autoridade pública. E que tem agido para manter todas as imunidades e prerrogativas parlamentares.
O documento diz ainda não ser possível que uma alta autoridade atue por vendeta, chantageando e paralisando um país para defender-se das consequências jurídicas dos crimes pelos quais está denunciado.
O deputado Chico Alencar, do PSOL, disse que ele passou dos limites. Está um descalabro. É casuísmo em cima de casuísmo. Então, a gente está nessa tríade aqui na Câmara: barganha, chantagem e casuísmo, afirmou.
O deputado Marcos Rogério disse que vai apresentar um parecer pela continuidade do processo contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Marcos Rogério, que é do PDT de Rondônia, da bancada evangélica a mesma bancada de Cunha, vai ser apresentado como relator na sessão do Conselho de Ética na manhã de quinta-feira (10).
Ele garantiu que vai apresentar o parecer na sessão da próxima terça-feira (15), no Conselho de Ético. Disse ainda que já começou a trabalhar no novo parecer.
O presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo, disse que pretende votar esse novo parecer ainda na semana que vem.