Na véspera da votação do impeachment, aumenta assédio a deputados.
Câmara decidirá neste domingo se autoriza processo de impeachment.
Governo e oposição intensificaram neste sábado (16) a disputa nos bastidores por votos de deputado, numa queda de braço nas últimas horas antes da votação que decidirá se a Câmara autoriza ou não a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ministros e governadores trabalharam para tentar conquistar votos.
A Confederação Nacional da Agricultura pressionou a bancada ruralista a votar pelo impeachment.
Às margens do Lago Paranoá, no Palácio da Alvorada, a presidente Dilma Rousseff disparou telefonemas, pediu apoio a deputados.
Neste sábado, o presidente do PDT, Carlos Lupi, avisou que os os parlamentares que votarem a favor do impeachment sofrerão sanções como expulsão e perda do mandato. E pode haver intervenção nos diretórios estaduais e municipais do partido na segunda-feira.
Em um hotel em Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva montou seu gabinete para tentar convencer indecisos.
Deputados debatem pedido contra Dilma.
A um quilômetro e meio dali, no Palácio do Jaburu, onde mora o vice-presidente Michel Temer, houve engarrafamento de carros.
Na Câmara, a chegada ao Salão Verde foi para reconhecer o terreno. “Cheguei tem três dias, tive que arrumar um hotel para ficar, não tá fácil de arrumar hotel aqui em Brasília”, disse o deputado Thiago Peixoto (PSD-GO).
Thiago Peixoto foi eleito deputado, mas tinha deixado o cargo com o suplente para ser secretário do governo de Goiás.
Agora, assumiu o mandato correndo, só para votar o pedido de impeachment. Ele é do PSD, partido que foi da base aliada, mas decidiu votar a favor do impeachment.
“Eu pretendo votar no próximo dia, e, na segunda-feira ou na terça-feira, ver como vai ser essa movimentação aqui e já na outra semana estar de volta como secretário de estado”, declarou Peixoto.
No Congresso, uma das estratégias dos dois lados nos últimos dias foi a de mexer as peças. Alguns suplentes tiveram que sair. É do jogo e nem puderam reclamar. Eles não são donos do mandato, e titulares entraram em campo, pegaram as vagas para registrar o voto no placar final.
Foi assim que o deputado Raul Jungmann (PPS-PE) soube que não vai votar neste domingo. Ele é suplente e teve que ceder o mandato para o titular.
“É como se você estivesse na partida final do campeonato e, aos 89 minutos, sofresse um pênalti. O técnico te tira e outro vai bater o pênalti da vitória e do campeonato. É triste? É. Mas é legítimo”, declarou Jungmann.
Dez secretários estaduais retomaram o mandato, a pedido de governadores, aliados do vice Michel Temer e de aliados da presidente Dilma Rousseff. Ministros voltaram para a Câmara como deputados para ajudar o governo.
“Eu fiz questão, pedi à presidenta para reassumir porque eu quero estar presente aqui nesse momento, fiel aos nossos companheiros e companheiras que nos elegeram em Minas”, afirmou o ministro Patrus Ananias.
A outra estratégia é o vazio, o silêncio, não aparecer. O governo conta até com abstenções para tirar votos da oposição.
“Alguns têm problema mesmo ou de família ou de doença e vai ter outros parlamentares que, para fugir desse jogo de pressão, vai se ausentar. Então, é uma decisão muito individual de cada um. Eu não conseguiria lhe dizer quantos estão assim quantos estão do outro jeito. Para nós, o que nos interessa é que eles não vão chegar aos 342. De que forma? Aí estamos na guerra. O voto contra o impeachment é bom. O voto de abstenção é bom. O voto ausente também é bom”, disse o ministro Jaques Wagner.
“O jogo termina quando acabar a votação. Mas nós temos confiança e esperança pelo apoio da população, do trabalho que se fez aqui. A consciência parlamentaraumentou de que precisa um novo governo, e a saída é política, é o que nós temos fazer amanhã”, declarou o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).
Outro trunfo que só o governo tem é a liberação de emendas parlamentares. Um levantamento do partido DEM mostra que, do início do ano até esta sexta-feira, o governo liberou mais de R$ 149 milhões de emendas individuais que tinham sido aprovadas de 2012 a 2015 R$ 32 milhões somente nesta semana.
Governistas negam que a liberação de emendas tenha relação com o impeachment. Dizem que a estratégia mais forte tem sido a conversa.
“De uma em uma hora eu estou num gabinete. Normalmente, eu vou ao gabinete do parlamentar, vou de uma maneira discreta, para não ser reconhecido no corredor”, afirmou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
Neste sábado, a presidente Dilma Rousseff anunciou a transferência de terras da União para o estado do Amapá em uma cerimônia fechada, no Palácio do Planalto.
O governo disse que apenas cumpriu uma lei de 2001, passando terras para ex-territórios que viraram estados, como Roraima e Amapá.
Dilma prometeu cargos e já começou a entregar. Nos últimos dias, foram várias nomeações nas páginas do “Diário Oficial”. “O nome disso é feirão, um feirão vergonhoso, saúde, educação”, disse o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA).
“O que é legítimo é vocês todos dizerem que nós estamos repactuando o governo. E quando eu, pelo governo, eu digo que estamos repactuando, significa ocupação de espaço e o que não pode é dizer que só nós que fazemos isso”, afirmou o líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE).
No fim da tarde, a oposição entrou com uma notícia-crime na Polícia Federal pedindo que seja investigada a distribuição de cargos em troca de votos e a real finalidade da transferência de terras da União para o estado do Amapá.
O deputado Silvio Costa (PTdoB-PE), vice-líder do governo na Câmara, disse que a suspeita foi inventada pela oposição.