BRASIL EM CRISE |
Cúpula do partido pretende ter controle do processo, impedindo que deputado consiga emplacar aliado no cargo
Mariene Bergamo
A sucessão da presidência da Câmara gerou mobilizações nesta semana tanto no PT quanto no PMDB
GUSTAVO URIBE
RANIER BRAGON
DE BRASÍLIA
Com receio de novas interferências do Palácio do Planalto e do PMDB do Senado, o vice-presidente Michel Temer pretende centralizar na Executiva Nacional do partido a escolha do nome para suceder Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na presidência da Câmara dos Deputados.
O objetivo é blindar a bancada de deputados da sigla, dar à cúpula do partido o controle do processo e impedir o presidente da Câmara de emplacar um aliado como sucessor. A iniciativa também ajudaria a desmobilizar movimento do Planalto para colocar no posto um peemedebista governista que ficasse à frente da tramitação do processo impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O argumento de aliados e correligionários do vice-presidente é de que a bancada do partido está rachada e de que, assim como na disputa da liderança da legenda na Câmara, uma interferência da Executiva Nacional do PMDB evitaria que a crise interna se aprofundasse ainda mais.
Como retaliação a Temer, a presidente Dilma e a bancada de senadores do PMDB restituíram na quinta-feira (17) o deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ) à liderança da legenda na Câmara. Eles reverteram o apoio de sete deputados que garantiram na semana retrasada a entrada de Leonardo Quintão (PMDB-MG), aliado do vice-presidente, no comando da bancada.
O movimento causou irritação na cúpula do partido e ocorre no momento em que o PMDB no Senado se articula para retirar Temer da presidência da legenda na convenção nacional da sigla, marcada para março. Em uma contraofensiva, os aliados e auxiliares do vice-presidente trabalham para fortalecer o apoio à sua manutenção no cargo na bancada federal.
A mobilização em tomo da sucessão na Câmara teve início com o pedido na quarta-feira (16) do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para que o STF (Supremo Tribunal Federal) alaste Cunha sob o argumento de que utiliza o cargo em interesse próprio para evitar investigação contra ele.
O ministro Teori Zavascki, da Suprema Corte, decidiu, contudo, deixar para fevereiro a análise da solicitação, após o fim do recesso.
INDEPENDÊNCIA
O perfil defendido pela cúpula do PMDB para a sucessão na Câmara é de um deputado que seja independente, sem ser ligado diretamente nem ao governo nem à oposição e que tenha atuação ponderada, sem ser radical.
Os nomes mais lembrados são os dos deputados federais Osmar Serraglio (PMDB-PR), que está em seu quinto mandato consecutivo, e José Fogaça (PMDB-RS), ex-prefeito de Porto Alegre.
Na base aliada, o Palácio do Planalto deu cartão verde para que Leonardo Picciani articule sua candidatura ao comando da Câmara. O próprio governo federal, no entanto, reconhece que, enfraquecido na bancada do partido e com o rótulo de governista, dificilmente ele conseguirá se viabilizar.
Com esse diagnóstico, o núcleo duro da presidente estuda alternativas dentro e fora do PMDB que possam viabilizar um consenso e que não provoquem resistência nos partidos de oposição.
Nesse esforço, o Planalto tem manifestado simpatia pelos deputados Sérgio Souza (PMDB-PR) e Paulo Magalhães (PSD-BA), ambos com perfil moderado.
Correm por fora na disputa Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Miro Teixeira (Rede-RJ) e Silvio Costa (PT do B-PE).