NOVO GOVERNO NEGOCIAÇÕES NO CONGRESSO
Partidos do ‘centrão’ pressionaram pela indicação de André Moura (PSC-SE)
Indicação enfrentava resistência da antiga oposição a Dilma; no Senado, liderança pode ficar com uma mulher
NATUZA NERY e PAULO GAMA
Pressionado pelos partidos do chamado “centrão”, o presidente interino, Michel Temer, decidiu nomear o deputado André Moura (PSC-SE) como líder de seu governo na Câmara. O martelo foi batido na noite desta terça-feira (17).
Apoiado pelo presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Moura era o nome defendido por partidos como PP, PR e PSD.
Fiel da balança na votação do impeachment de Dilma Rousseff, o grupo chegou a levar a Temer durante a manhã uma lista com 300 nomes que apoiavam a condução de Moura para a liderança.
Moura é um dos expoentes da tropa de choque que tenta barrar a cassação de Cunha no Conselho de Ética e chegou a ser chamado de “lambe botas” do peemedebista pelo petista Paulo Teixeira (SP).
Seu principal rival era Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tinha entre seus cabos eleitorais Moreira Franco, secretário-executivo de Parcerias do governo e um dos principais articuladores de Temer.
O “centrão” não admitia que um nome da antiga oposição ocupasse o posto. Esses partidos estudam a possibilidade de formar um “blocão” de apoio a Temer. A rejeição dos dois lados era recíproca.
O líder do governo na Câmara é, em linhas gerais, o responsável por negociar em nome do Palácio do Planalto os temas de interesse do presidente da República.
Após se reunir com líderes de partidos que apoiam a gestão Temer, o responsável pela articulação política, ministro Geddel Vieira Lima, reconheceu a dificuldade pela definição do novo líder.
“Evidentemente que vamos conversar com líderes da base aliada para que saia uma solução que nos unifique”, afirmou. “Estamos no governo faz dois dias e a sensação que eu tenho, quando leio os jornais, é que o governo já tem quatro anos.”
Quando o líder ainda não havia sido definido, Temer avaliava uma terceira via. Dentre os cotados, estavam o relator do impeachment na Câmara, Jovair Arantes (PTB-GO), o presidente da comissão, Rogério Rosso (PSD-DF) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
Todos eles são próximos ou têm bom diálogo com Cunha, acusado de envolvimento no petrolão. Porém, Rosso e Jovair haviam pedido ao presidente presidente interino que ele retirasse de tramitação de emenda à Constituição que recria a CPMF.
Ainda segundo relatos, foi sugerido a ele apoio à legalização de jogos de azar como os bingos. O tema já é discutido em uma comissão Da Câmara, mas sofre resistência da bancada evangélica.
Outro problema de Temer é a indefinição sobre a permanência ou não do interino Waldir Maranhão (PP-MA) no comando da Câmara. O deputado do PP presidiu nesta terça sua primeira sessão no plenário, mas encenou sob gritos de “fora, fora, fora”, puxados por PSDB e DEM.
Esses partidos querem nova eleição na Casa. Parte do centrão ainda defende Maranhão, assim como o PT.
Após críticas sobre a falta de representatividade feminina em seu governo, duas mulheres entraram no radar de Temer para líder do governo no Senado: Ana Amélia (PP-RS) e Simone Tebet (PMDB-MS). Ricardo Ferraço (PSDB-ES) também é cotado.
Colaboraram RAINER BRAGON, THAIS ARBEX, DANIELA LIMA, MARIANA HAUBERT E AGUIRRE TALENTO.