Folha de S. Paulo | Poder: Equipe de Temer reage com alívio e cautela

Saída de Cunha desmonta possibilidade de peemedebista ser o ‘vice do vice’, mas dúvida sobre sucessor cria tensão

O vice-presidente Michel Temer deixa a residência oficial do Senado após reunião no dia 27

Vice confidenciou ter achado desmedido o afastamento do cargo de presidente da Casa e do mandato pelo STF

DANIELA LIMA GUSTAVO URIBE VALDO CRUZ

O telefone de Michel Temer (PMDB) tocou por volta das 7h30 da manhã. Era o aviso de que havia uma decisão no STF (Supremo Tribunal Federal) para afastar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do mandato. Os aliados se apressaram em alardear um suposto “alívio” do vice-presidente com a notícia, mas não foi assim.

Temer montou quase de imediato uma equação problemática: se Cunha não era mais o presidente da Câmara, então, quem era? O substituto lhe traria complicações? Seria preciso intermediar uma nova eleição para o comando da Casa?

Afetaria a montagem de seu possível governo? Seria, de feto, uma boa notícia a uma semana da votação do afastamento de Dilma Rousseff no Senado?

O vice tentou responder a todas essas perguntas ao longo desta quinta (5). Reuniu-se com os principais aliados, futuros ministros e dezenas de deputados. Não fez nenhuma declaração que pudesse melindrar Cunha.

O revés vivido pelo peemedebista suscitou especulações sobre qual podería ser o impacto se, por exemplo, pressionado pela Justiça, decidisse fazer uma delação.

Os que falavam em alívio no início da manhã acreditavam que a saída do presidente da Câmara afastava um dos fantasmas que rondam a possível gestão do vice.

Com o peemedebista fora do jogo, desmonta-se o discurso de que Cunha seria o “vice do vice” e assumiri ao Planalto em eventual ausência de Temer.

CAUTELA

Mas, no início da tarde, a visão otimista já havia dado lugar a um tom cauteloso. Em uma das poucas avaliações que fez do julgamento, Temer considerou desmedido o afastamento não apenas do cargo de presidente, mas também do mandato.

A decisão de Teori estava em todas as conversas agendadas pelo vice. Um grupo de parlamentares do chamado “centrão”, aliado a Cunha, assinou nota de solidariedade ao peemedebista na varanda do Palácio do Jaburu.

Temer foi chamado a comentar o texto. Recusou-se. Disse que era um assunto interno da Câmara e que preferia não se meter.

SUCESSÃO

Ao final do dia, o grupo de Temer ainda tinha dúvidas sobre qual a melhor alternativa: um mandato tampão do vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), até início de 2017 ou o apoio a uma nova eleição na Casa.

Maranhão votou contra o impeachment de Dilma e criticou o processo de afastamento dela. Como presidente da Câmara, teria agora nas mãos a chance de dar andamento a um pedido semelhante do qual o vice é alvo.

Há ainda o indicativo de que aliados de Cunha querem uma nova eleição e de que, uma vez liquidadas as chances de o peemedebista voltar ao cargo, ele gostaria de participar da escolha. Três nomes são apoiados: André Moura (PSC-SE), Jovair Arantes (PTB-GO) e Rogério Rosso (PSD-DF), o favorito.

Há o temor, porém, de que uma disputa dessa natureza impeça Temer de aprovar medidas vitais para para o início de sua gestão. A maior preocupação do vice é com a alteração da meta fiscal, que teria de ser feita até o dia 22, para evitar a interrupção do pagamento de despesas basicas do governo, como luz.

Assuntos:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *