MÁRCIO FALCÃO
RANIER BRAGON
DE BRASÍLIA
Preso há quase oito meses por desvio de recursos públicos, Natan Donadon (ex-PMDB-RO) teve seu mandato cassado na noite desta quarta-feira (12) pela Câmara dos Deputados, por ampla margem.
O mesmo grupo de 512 deputados federais que o havia absolvido em agosto, em votação secreta, adotou postura diferente agora, na primeira vez que o Congresso analisou a perda de mandato de um congressista em votação aberta.
Foram 467 votos pela cassação –210 a mais do que o mínimo necessário, que é 257–, e nenhum pela absolvição. Em agosto, houve 131 votos pela absolvição.
Nesta quarta, só o deputado Asdrubal Bentes (PMDB-PA) apertou o botão da abstenção. Em agosto, foram 41. “Não me sinto confortável em condenar alguém se estou condenado”, disse Bentes, que recorre de condenação por, segundo a acusação, ter trocado laqueaduras por votos.
Presente à sessão, Donadon chegou sob escolta policial trajando roupa branca –que é a vestimenta exigida no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília– e sem algemas. Após vestir terno e gravata em uma sala reservada, foi para o plenário, onde falou com os repórteres. Ele reclamou da votação aberta, alegando que o instrumento “constrange” os congressistas.
“A Câmara me absolveu [em agosto], eu fico me questionando o que estou fazendo naquela prisão, eu deveria estar aqui, legislando, trabalhando”, afirmou o deputado, que se disse “injustiçado”, “bode expiatório” e “perseguido político”. “Quem é inocente não foge da raia.”
O ex-peemedebista foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal a mais de 13 anos de prisão devido a desvio de R$ 8,4 milhões da Assembleia de Rondônia por meio de contratos de publicidade fraudulentos. Ele torna-se agora o 18º deputado a ser cassado pelo plenário da Câmara desde a Constituição de 1988.
No final de agosto, quando os parlamentares estavam protegidos pelo sigilo do voto, o primeiro deputado-presidiário da recente história democrática escapou da cassação já que só 233 colegas votaram pela perda do mandato –24 a menos do que o mínimo necessário.
O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), porém, acabou suspendendo Donadon e convocando o suplente sob o argumento de que o ex-peemedebista estava impossibilitado de exercer o mandato. “É a volta à responsabilidade. Foi uma noite constrangedora, mas essa Casa teve que fazê-la, realizá-la, e cumpriu o seu dever honrando a primeira votação com o voto aberto nas questões de perda de mandato parlamentar”, disse nesta quarta Henrique Alves.
Antes do resultado, Donadon circulou rapidamente pelo plenário, sentou em uma das cadeiras e foi cumprimentado por poucos colegas, entre eles Candido Vaccarezza (PT-SP) e Wladimir Costa (PMDB-PA). Chegou até a prometer uma “entrevista coletiva” aos repórteres, momentos antes de ser conduzido pela polícia de volta ao presídio. Ele não discursou, nem acompanhou o resultado da votação. Apenas pode acompanhar a fala de seu advogado.
RUAS
O fim do voto secreto em cassações foi aprovado no ano passado depois dos protestos de junho e em decorrência da repercussão negativa da absolvição de Donadon.
A votação foi articulada pela cúpula da Câmara com o objetivo de minimizar o desgaste provocado pela absolvição do ex-peemedebista em agosto.
Naquele mês, o plenário analisou formalmente se um deputado preso poderia continuar de posse de seu mandato.
Após a absolvição, o PSB protocolou uma nova representação contra Donadon no Conselho de Ética.
O novo pedido defendia a perda do mandato sob o argumento de que o ex-peemedebista quebrou o chamado decoro parlamentar, o que resulta em cassação, segundo a Constituição, por dois motivos: 1) ter votado contra a própria cassação (ele compareceu à sessão de agosto para apresentar a sua defesa), o que é proibido pelo Regimento Interno; 2) e ter saído algemado da Câmara, supostamente afetando a imagem da Casa.
“Lavar as mãos nesse caso seria tapar o ouvido ao clamor popular”, discursou o relator do caso, José Carlos Araújo (PSD-BA).
A pena aplicada pelo STF deve deixar o deputado em regime fechado até pelo menos setembro de 2015.
VOTO A VOTO
Dos 513 deputados federais, três não poderiam votar no processo da perda do mandato de Natan Donadon (ex-PMDB-RO) –duas vagas são de parlamentares licenciados e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, pelo regimento, não vota.
Dos outros 510 congressistas, foram computados 467 votos pela cassação e uma abstenção. Os 42 restantes se dividem em dois grupos: 25 que não apareceram no Congresso e 17 deputados que estavam presentes na Câmara mas não foram ao plenário na sessão que iria decidir a cassação.