O doleiro Alberto Youssef deverá ser ouvido pelo Conselho de Ética da Câmara em 1º de julho. A oitiva, autorizada pelo juiz Sérgio Moro, será realizada por videoconferência transmitida em reunião aberta do colegiado. O doleiro está preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba (PR) desde o dia 17 de março.
Pivô de um esquema bilionário de lavagem de dinheiro, Youssef deverá explicar sua relação com o deputado André Vargas (sem partido-PR) e o empréstimo de um jatinho usado por Vargas para viajar com sua família para uma praia no Nordeste.
O doleiro integra o grupo de oito testemunhas indicadas pelo relator do processo contra Vargas no Conselho de Ética, deputado Júlio Delgado (PSB-MG). Com exceção de Youssef, os demais deveriam ter comparecido à reunião do Conselho nesta quarta-feira (18) para depor no processo.
No entanto, o líder do PT na Câmara, Vicentinho (SP), o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) e o presidente do PT, Rui Falcão, alegaram que o convite feito a eles tem caráter político-eleitoreiro e, por isso, não iriam prestar depoimento.
Rui Falcão foi um dos principais políticos que pressionaram Vargas a renunciar ao mandato e ao cargo de vice-presidente da Câmara, além de ter atuado para que Vargas se desfiliasse do PT. Ele também entrou com um pedido no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para pedir a vaga de Vargas na Câmara. Já Vaccarezza foi incluído no processo por ter defendido Vargas desde o início das publicações das denúncias.
“Mesmo que eles não tenham vindo, continuamos com o processo, contando os prazos legalmente. Comparecer ajudaria a elucidar algumas coisas, mas o não comparecimento mostra que o partido que está pedindo seu mandato na verdade o está apoiando. Quem não diz nada também diz muita coisa e isso mostra a disposição deles em proteger André Vargas”, afirmou o relator.
Segundo Delgado, o secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, e o dono da Elite Aviation, empresa dona do jatinho usado por Vargas, Bernardo Tosto, responderam ao convite informando que, por motivos particulares e previamente agendados, não poderiam comparecer à Câmara nesta quarta. Tosto, no entanto, se dispôs a responder aos questionamentos por escrito. O Conselho irá encaminhar as perguntas na sexta-feira (20).
De acordo com as investigações da Polícia Federal, Gadelha se encontrou com Vargas e com o doleiro para discutir contratos do laboratório Labogen, que teria sido usado pelo doleiro para lavar milhões de reais. Os sócios do laboratório, Leonardo Meirelles e Esdra Ferreira também foram convidados mas não enviaram resposta ao Conselho de Ética.
Diferentemente do que acontece em uma CPI, o Conselho de Ética não tem poder para convocar testemunhas. O colegiado faz apenas convites que não precisam nem ser respondidos. Segundo Delgado, ele irá convidar novamente as testemunhas, exceto Youssef, indicadas por ele para depor na próxima quarta-feira (25). Se novamente ninguém comparecer, ele poderá dispensá-las e poderá começar a ouvir as testemunhas de defesa indicadas por Vargas. Os primeiros convites foram feitos em 3 de junho.
Segundo Delgado, mesmo entre um jogo do Brasil na Copa do Mundo, realizado nesta terça-feira (17), e o início do feriado de Corpus Christi nesta quinta-feira (19), a reunião de hoje foi mantida para a contagem de prazo. Ele afirmou que pretende entregar o seu relatório sobre o processo ainda em julho, antes do início do recesso parlamentar. Para ele, mesmo que a defesa peça mais prazo ou tente postergar o processo, é possível concluí-lo antes das férias parlamentares.
O presidente do colegiado, deputado Ricardo Izar (PSD-SP), reclamou que o acordo feito com o deputado Sibá Machado (PT-AC) de se adiar as oitivas para esta semana não foi cumprido. Na reunião do dia 3 de junho, o relator tentou marcar as oitivas para a semana passada, mas o petista pediu que elas fossem adiadas para esta quarta porque o STF (Supremo Tribunal Federal) ainda não tinha compartilhado parte das investigações referentes à Vargas.
Mesmo com o adiamento, nenhum petista compareceu à reunião desta quarta, que contou com a presença apenas de três deputados além do presidente e do relator. “Me sinto frustrado porque fizemos o acordo e hoje ele não foi cumprido”, disse Izar.
ARGÔLO
No início da reunião desta quarta, Izar informou que o prazo para que o deputado Luiz Argôlo (SDD-BA) apresentasse sua defesa no Conselho de Ética se encerrou nesta terça (17).
No entanto, a defesa do parlamentar pediu a prorrogação do prazo por mais dez dias. O relator do caso, deputado Marcos Rogério (PDT-RO), acatou o pedido e estipulou o limite para a entrega da defesa até às 12h da próxima terça-feira (24).
Argôlo responde a dois processos no Conselho também por envolvimento com Alberto Youssef. O relatório da Polícia Federal sobre o deputado aponta indícios de que Argôlo usou dinheiro público da Câmara dos Deputados para viajar e se reunir com o doleiro.
Segundo a PF, o congressista e o doleiro trocaram 1.411 mensagens entre 14 de setembro de 2013 e 17 de março de 2014. O celular usado por Argôlo está registrado em nome da Câmara, de acordo com a PF.