O que deveria ser um pedido de desculpas de Cid Gomes à Câmara se transformou em um acalorado bate-boca com troca de acusações e constrangimentos. Aliados do governo foram chamados pelo então ministro da Educação de oportunistas. Ele mesmo foi qualificado de “palhaço”.
Cid chegou ao Congresso 15 minutos antes do horário agendado, 15h. Ao lado de assessores e deputados do Pros, seu partido, tirou fotos e conversou com alguns parlamentares. Em poucos minutos, o tom amigável desapareceu.
Ele logo abordou o motivo que o levava à Casa por convocação do presidente, Eduardo Cunha (PMDB-RJ): a declaração, a um grupo de estudantes no Pará, de que a Câmara tem “uns 400 deputados, 300 deputados achacadores”.
Dezenove dias depois, o ministro pediu “perdão” pela declaração aos que não vestiram a “carapuça”, mas fez ressalvas. Destacou que a fala ocorreu em “lugar reservado”, onde foi feita uma “gravação não autorizada, que não reflete minha opinião pública”. O mea-culpa foi seguido de críticas.
“Partidos de situação têm o dever de ser situação, ou então larguem o osso, saiam do governo, vão para a oposição”, emendou.
No plenário, uma claque de políticos e aliados vindos do Ceará tentava abafar a reação dos deputados –que foram repreendidos por Cunha.
“Eu fui acusado de [ser] mal educado. Pois muito bem: prefiro ser acusado por ele [Cunha] de mal educado, do que ser como ele, acusado de achaque”, disse Cid.
Cunha é investigado porque o doleiro Alberto Youssef disse na sua delação na Operação Lava Jato que ele pressionou empresa a pagar propina por meio de requerimentos na Casa, o que ele nega.
Parlamentares passaram a cobrar a saída do ministro do governo. Para eles, a manutenção do titular da pasta que hoje carrega o lema do governo, “Pátria Educadora”, já não era mais sustentável.
“Dê os nomes dos 300, 400, quantos forem, que praticaram crime, que achacaram”, disse o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ). Aliado de Cunha, ele disse que a sigla deixaria a base se Cid permanecesse no ministério.
Autor do requerimento para ouvir Cid, o líder do DEM, Mendonça Filho (PE), ironizou: “Não precisamos de oposição nesta casa, este governo produz uma crise por dia”.
Líder do PSC, André Moura (SE) elencou episódios polêmicos da gestão de Cid à frente do governo do Ceará.
O ato final foi de Sérgio Zveiter (PSD-RJ): “Eu poderia dizer que esse cidadão está aqui fazendo papel de palhaço. Eu poderia dizer que era melhor esse cidadão pendurar uma melancia no pescoço para poder aqui aparecer”, afirmou, dizendo que ele parecia forçar a demissão para “pular fora do barco que está prestes a afundar”.
Cid retrucou, mas teve o som de seu microfone cortado por Cunha. Irritado, seguiu gritando até desistir.
Cid deixou então a tribuna e a Casa sem ouvir o anúncio de Cunha, que prometeu processá-lo. O ministro foi ao Planalto e, meia hora depois, o presidente da Câmara anunciou sua demissão.
Cunha então iniciou os trabalhos da Casa colocando em votação uma proposta de valorização do salário mínimo até 2019, que vai contra o ajuste fiscal. O Planalto conseguiu articular a retirada o projeto da pauta.