Após uma manobra do deputado petista José Mentor (SP) que encerrou a sessão da Câmara que discutia a cassação do deputado André Vargas (ex-PT-PR), o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), foi pressionado e teve que reabrir os trabalhos.
Faltando duas horas para o fim da sessão, Mentor, que não é membro da Mesa Diretora, assumiu o comando dos trabalhos e decretou o fim da reunião.
Dos 513 deputados, 230 tinham registrado presença. Para a cassação ser discutida, era preciso que 257 deputados tivessem confirmado a participação na sessão.
Segundo oposicionistas, Mentor não tinha registrado nem presença na sessão. O gesto do petista, que atuou na CCJ para atrasar a análise da cassação de Vargas, irritou o relator do processo, deputado Julio Delgado (PSB-MG), o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PSD-SP), e líderes da oposição que cobraram de Alves a reabertura dos trabalhos.
“Não tem jogo aqui. Não tem dubiedade. Essa casa precisa ser passada a limpo “,disse.
Vice-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse que deixou o comando da sessão nas mãos de Mentor porque precisava descer ao plenário para dar esclarecimentos aos colegas. Enquanto isso, Mentor assumiu o trabalho e encerrou a sessão.
Segundo Chinaglia, Mentor atuou seguindo orientação do presidente da Câmara. Alves assumiu a responsabilidade pelo gesto do petista.
Além da blindagem do petista, Vargas deflagrou outra ofensiva para tentar evitar a análise do seu pedido de cassação.
O deputado entregou um recurso no comando da Casa alegando que não tem condições de apresentar sua defesa no pedido de perda de mandato, pedindo uma nova data para a votação a partir do dia 16. O Congresso entra em recesso no dia 23.
Vargas apresentou um atestado de que foi submetido a uma cirurgia odontológica que o impede de falar para “tentar provar sua inocência” para seus pares. Além do atestado, ele enviou imagens comprovando o procedimento cirúrgico.
Para tentar adiar a votação, Vargas inclusive destituiu seu advogado que atuou ao longo de todo o processo para que o defensor não o substituísse. Vargas está em São Paulo.
Alves ainda não deliberou sobre o pedido de Vargas.
Vargas trabalha para ser não ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa para não ficar inelegível por oito anos.
Em agosto, o Conselho de Ética considerou que Vargas quebrou o decoro parlamentar por intermediar, junto ao Ministério da Saúde, negócios do doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato que investiga um esquema de desvio de recursos da Petrobras, envolvendo empreiteiras, partidos e políticos.
O parecer do deputado Júlio Delgado (PSB-MG) também levou em consideração a locação de um avião utilizado por Vargas para passar férias com a família no Nordeste, a um custo de R$ 105 mil, custeado por Yousseff, caso revelado pela Folha.
Numa ação costurada com a cúpula, o partido pediu seu mandato na Justiça Eleitoral, mas o gesto foi interpretado como mais uma manobra para tentar evitar que ele fosse enquadrado na Lei da Ficha Limpa. O TSE ainda não se manifestou sobre o caso. A legenda tentou se descolar de Vargas para evitar desgastes nas eleições.