Folha.com | Poder: Réu, Eduardo Cunha atua em passo a passo do impeachment de Dilma

Contrariando o discurso público de que já não tem responsabilidade pela sequência do processo de impeachment de Dilma Rousseff, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tem participado de forma decisiva de todo o passo a passo do pedido de deposição da petista, em articulações de bastidor que envolvem deputados de vários partidos.

O presidente da Câmara, réu no Supremo Tribunal Federal sob acusação de integrar o petrolão, é apontado por aliados e dissidentes da base governista que mantêm conversas e encontros diários com ele como um dos principais comandantes da tentativa de encurtar o mandato de Dilma.

Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara dos Deputados

A Folha conversou nos últimos dias com deputados para refazer o passo a passo da operação, que foi retomada no último dia 16, uma quarta, quando o STF definiu o rito a ser seguido pela Câmara.

Nesse mesmo dia, vieram a público grampos indicando possível tentativa de Dilma e do ex-presidente Lula de obstruir as investigações da Operação Lava Jato, o que caiu como uma bomba no Congresso e que levou a sessão do plenário da Câmara a ser interrompida pelo coro “renúncia!” dirigido a Dilma.

Na noite desse dia, a residência oficial do presidente da Câmara abrigou a reunião em que praticamente foi batido o martelo na escolha dos nomes de Rogério Rosso (PSD-DF) para a presidência da Comissão Especial do impeachment e de Jovair Arantes (PTB-GO) para a relatoria.

Jovair é um dos principais escudeiros de Cunha na ofensiva do peemedebista contra seu processo de cassação.

Nesse encontro na casa de Cunha, que contou com a presença de líderes da oposição e de partidos governistas que têm bom relacionamento com Cunha, como o PR e o PP, ficou definido que a oposição abriria mão de tentar emplacar Rodrigo Maia (DEM-RJ) em posto-chave da comissão.

Os nomes de Rosso e Jovair acabaram virando um consenso, com o apoio de Cunha, e o próximo passo foi obter o “aceite” do PT. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), avaliando que o Planalto não conseguiria emplacar alguém do PT ou do PMDB palaciano, acabou encampando a proposta.

REUNIÃO

Ele a levou no dia seguinte, quinta-feira (17), para reunião com os líderes governistas. Na reunião, um dos vice-líderes do governo, Silvio Costa (PT do B-PE), se irritou, afirmando que aquele era um prato pronto combinado com a oposição, o que gerou bate-boca e o abandono da reunião dos líderes de PR e PP.

Dos vários deputados ouvidos pela reportagem, duas versões surgiram, com algumas variações.

A primeira, a de que houve acerto de bastidor entre Cunha, oposição, Rosso e Jovair para apresentar relatório pelo impeachment de Dilma, com promessa de empenho futuro para salvar omandato de Cunha, o que pressupõe que o governo foi ludibriado.

A segunda, o oposto: a de um acordo de bastidor entre Cunha, o governo, Rosso e Jovair para um relatório pró-Dilma, igualmente com promessa de auxílio posterior para livrar Cunha da cassação. Nesse caso, com a oposição sendo passada para trás.

Em público, todos os envolvidos negam qualquer espécie de acordo ou direcionamento prévio do relatório.

Oposição e Cunha também fecharam planilha de quais deputados iriam garantir quórum nas sessões de segundas e sextas, dias em que o Congresso costuma ficar vazio. A presença desses deputados nesses dias define o ritmo do impeachment, cujos prazos se contam em sessões do plenário da Câmara. De fato, na sexta (18) e na segunda (21) houve quórum para realização das sessões.

Cunha também discutiu marcar a votação final do impeachment para um domingo, possivelmente 17 de abril, com o objetivo de coincidir a votação com pressão das ruas.

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