A votação a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff foi reforçada pela chamada “bancada BBB” da Câmara: do boi, da Bíblia e da bala. Ela reúne membros dos blocos ruralista, evangélico e da segurança pública.
Se o processo fosse votado apenas por essas bancadas, o resultado seria ainda mais desfavorável ao governo.
Enquanto no cômputo geral 72% dos deputados foram favoráveis ao impeachment, na bancada evangélica o mesmo índice seria de 84%.
Já na bancadas ruralista e “da bala”, a votação seria de 83% e 81%, respectivamente.
Para a aceitação do processo contra Dilma eram necessários 67% dos votos.
O cruzamento feito pela Folha teve como base a lista oficial de deputados que fazem parte das diversas frentes parlamentares da Casa –na atual legislatura já foram registradas 233.
Radiografia dos votos
A Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional, liderada pelo deputado João Campos (PRB-GO), tem 199 deputados. Alguns deles, suplentes, deixaram a Câmara antes da votação.
Fazem parte dessa bancada inimigos declarados do governo, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), membro da igreja Assembleia de Deus.
A bancada ruralista é representada pela Frente Parlamentar Mista da Agropecuária, presidida pelo deputado Marcos Montes (PSD-MG). Ela foi criada para a “ampliação de políticas públicas para o desenvolvimento do agronegócio nacional” e conta com 215 membros.
Já a Frente Parlamentar da Segurança Pública, liderada por Alberto Fraga (DEM-DF), é uma das maiores da Câmara, com 294 membros.
Entre eles estão deputados que usaram o voto deste domingo (17) para defender o golpe militar de 1964, como Jair Bolsonaro (PSC-RJ).
No total, 313 dos 367 deputados que votaram pelo impeachment de Dilma fazem parte da “bancada BBB” –são membros de pelo menos uma das três frentes parlamentares.
Parte desses deputados –53–, como o próprio Eduardo Cunha, são membros das três ao mesmo tempo.
Placar do impeachment na Câmara
Também votaram majoritariamente contra Dilma os membros das frentes da indústria (70%), ambientalista (74%) e o bloco que defende a aprovação das “Dez Medidas contra a Corrupção Propostas pelo MPF”, com 82% dos votos.
Em outras bancadas a votação do impeachment não prosperaria. Se fosse realizada apenas por membros da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos, que tem 217 integrantes, muitos deles de esquerda, a votação favorável atingiria 59%, menos do que o mínimo necessário.
ESTADOS
Se a votação fosse decidida individualmente pelas bancadas dos Estados, o governo seria derrotado em 19 deles. As maiores derrotas, proporcionalmente, foram no Amazonas e Rondônia, onde todos os deputados votaram a favor do impeachment.
Em Mato Grosso do Sul, Pará e Maranhão também houve maioria de votos a favor, mas abaixo do mínimo necessário. As bancadas do Acre e do Piauí votaram divididas, metade para cada lado. Já na Bahia, Ceará e Amapá, os votos contrários ao pedido foram maioria.
Considerando as bancadas segundo as regiões do país, as maiores votações favoráveis ao impeachment foram no Centro-Oeste (83%), seguido do Sul (81%) e Sudeste (78%). No Norte o índice ficou em 71% e no Nordeste, 56% –única região onde o pedido não teria votos suficientes.
PARTIDOS
A maioria dos deputados seguiu a orientação partidária na votação. Nove partidos, com o PSDB à frente, tiveram todos os votos à favor do impeachment. Do outro lado, apenas PT, PCdoB e PSOL votaram totalmente contra.
As bancadas mais dividias foram as da Rede, PEN e PDT.