Pressionado por partidos aliados, peemedebista deve retirar proposta sobre o tema que tramita no Congresso. Escolha de líderes do governo também vira foco de tensão
Paulo de Tarso Lyra, Julia Chaib e Natalia Lambert
Brasília — Os líderes do chamado centrão — bloco parlamentar formado por 13 partidos e que pode chegar a 295 congressistas, se contar com a adesão do PMDB — impôs ontem o primeiro revés ao governo de Michel Temer. Em reunião com o presidente interino, eles avisaram que a CPMF não passará em hipótese nenhuma na casa. O mesmo conjunto de deputados quer empurrar goela abaixo do Planalto outro abacaxi: a escolha do deputado André Moura (PSC-SE) para o cargo de líder do governo.
A proposta de sepultar a CPMF neste momento ainda conseguiu unificar o discurso da base, que conta ainda com o PSDB, DEM, PSB e PPS. Mas a escolha de André Moura causa uma cizânia nos partidos que dão sustentação a Temer na Casa. “É claro que a indicação do André tem o dedo do Eduardo Cunha. Se ele for nomeado líder do governo na Casa, a cassação de Cunha não andará nunca”, alertou o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR).
Em relação à CPMF, Temer e o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, concordaram em recuar da volta do imposto neste momento. O presidente em exercício, inclusive, avisou que vai retirar o projeto sobre o tema que tramita na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara — no ano passado, o governo Dilma enviou ao Congresso a previsão de gastos e receitas na Lei Orçamentária com a previsão de arrecadar recursos com a CPMF. “A CPMF está estigmatizada. As pessoas odeiam a CPMF”, disse o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) ao presidente em exercício durante a reunião com Temer, sendo apoiado pela maioria dos líderes.
O presidente em exercício pediu, contudo, que os parlamentares retomem a normalidade de votações na Casa. Ele quer aprovar as medidas provisórias que trancam a pauta da Câmara e aceitou retirar a urgência do projeto que renegocia a dívida de estados e municípios com a União para facilitar o debate interno.
Para fazer as reformas anunciadas, será preciso, mais do que nunca, colocar as pessoas certas nos postos-chave, aqueles que ficarão na linha de frente para articular as votações com osparlamentares. Antes da reunião no Planalto, correu a informação de que os líderes aliados levariam a Temer um abaixo-assinado com quase 300 assinaturas demonstrando apoio a André Moura. Levando-se em conta que, durante a votação do impeachment na Câmara, Temer contou com 367 votos favoráveis ao afastamento, a intenção, em tese, era emparedar o peemedebista e forçá-lo a anunciar o nome do afilhado de Eduardo Cunha.
O grupo recuou na última hora. Mas continua não achando constrangedor que o novo governo tenha como líder na Casa um deputado tão afinado com o presidente afastado da Câmara. “Não vejo constrangimento nenhum. Um líder do governo precisa, sim, ter bom trânsito entre todos os parlamentares. Isso o André tem”, afirmou o líder do PSD, Rogério Rosso (DF).
O ministro Geddel Vieira Lima negou que tenha sido batido o martelo quanto a uma indicação para a liderança do governo. “O presidente não recebeu indicação de líderes. Este assunto será negociado, tratado, mas é prerrogativa do presidente”, disse. O governo estuda uma terceira via que fuja à indicação de Moura e de Rodrigo Maia, que seria a opção capitaneada por DEM e PSDB. “Enquanto o presidente não designa quem vai exercer a liderança, os líderes dos partidos tocarão a pauta sem nenhuma dificuldade, não tenho dúvida disso”, afirmou Geddel.
MARANHÃO Com mais ênfase, os líderes do PPS, Rubens Bueno (PR) e do DEM, Pauderney Avelino (AM), cobraram uma atuação do Planalto na crise que envolve a permanência do deputado Waldir Maranhão (PP-MA) na presidência da Câmara. Temer lavou as mãos e disse que não tinha como interferir nessa questão. E que o assunto deveria ser resolvido pelos líderes aliados, para que a Câmara volte a funcionar normalmente.
Na primeira sessão em que se sentou à cadeira como presidente interino da Câmara dos Deputados, Waldir Maranhão (PP-MA), enfrentou um plenário agressivo e agitado. O parlamentaresteve na posição por pouco mais de uma hora. Discursos pediam a sua renúncia e, em vários momentos, ouviu gritos de “fora, fora”. Teve, inclusive, dificuldades para encerrar a sessão, às 18h55, por causa dos gritos de ordem que parlamentares bradavam no plenário pedindo a sua saída. Uma nova sessão está marcada para amanhã às 14h e a reunião de líderes para definir a pauta, agendada para as 10h.
Com um discurso inflamado, Pauderney Avelino pediu a renúncia do parlamentar. “Levante-se dessa cadeira. A Câmara dos Deputados não merece o que o senhor está fazendo. O Brasil não merece o que o senhor fez na semana passada”, disse Avelino em referência ao ato assinado por Maranhão que revogava a sessão de votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara em 17 de abril e anulado em seguida.
Em resposta imediata, deputados do PT, PDT e PSOL se manifestaram favoráveis à presidência de Maranhão. “Quem pariu Matheus que o embale. Ele teve o voto de vocês. Foi eleito. O PSOL não apoia Waldir Maranhão, mas não tolerará qualquer manobra que fuja da legalidade’, afirmou o líder do partido, Ivan Valente (SP).