Estado de Minas | Política: Procura-se um presidente

A cada vez mais provável renúncia de Eduardo Cunha leva partidos a intensificar negociações sobre quem ficará no comando da Câmara dos Deputados. São pelo menos 12 nomes na disputa

João Valadares Brasília – Com o prenúncio da renúncia do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), turbinado por rumores levantados por seus próprios aliados, o tabuleiro político na Câmara para escolha do nome de um presidente com mandato tampão está sendo montado. Pelo regimento da Casa, após a vacância do cargo, a eleição deve ocorrer em até cinco sessões. Em tese, se Cunha renunciasse hoje, a votação já poderia ocorrer nesta semana. Por isso, mesmo longe de uma definição, as conversas entre os principais líderespolíticos se intensificaram em Brasília. A grande dificuldade do governo Temer até o momento é encontrar um parlamentar que unifique a base de sustentação. O presidente interino deseja que o nome saia após o acordo entre o chamado Centrão, que congrega PP,PSD, PR e PTB e mais oito siglas, PMDB e a antiga oposição, formada por PSDB, PPS, PSB e DEM.

É o cenário ideal para o governo. Oficialmente, Temer tenta manter a imagem de que não quer interferir na disputa. No entanto, nos bastidores, a conversa é outra. O Planalto tem pressa para encontrar um nome “da paz” com o objetivo de evitar uma ruptura na base. Para isso, várias arestas precisam ser aparadas. Um dos nomes que surgiu com força na semana passada foi o do líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF), após costura entre Temer e Cunha. No entanto, partidos do chamado Centrinho (PSDB, PPS, PSB e DEM) resistem por entender que o parlamentar é bastante ligado a Cunha. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) teria entrado na negociação para tentar garantir apoio ao nome de Rosso em troca de emplacar o presidente da Câmara em 2017. Rosso se diz preocupado com a estabilidade da Câmara.”O mais importante agora é estabilizar a Casa. Precisamos de uma agenda e um cronograma de votações até o fim deste biênio. Precisamos de estabilidade para ter previsibilidade. É importante que os partidos da base cheguem a um consenso”, afirmou.

O nome do Centrão ou do PSDB só entraria na disputa para valer quando houvesse a vacância do cargo. A ordem no Planalto é evitar ao máximo a disputa. O acordo costurado indica que o parlamentar que entrar agora não poder se candidatar em 2017, quando haverá nova eleição para a Presidência da Câmara. “O PSB está fora dessa conversa. Não tem acordo. Não podemos eleger um preposto de Cunha. Não tem negociação assim. É repugnante”, refutou Julio Delgado (PSB-MG).

NEM TUCANO,

NEM PETISTA

Há um bloco informal de deputados com integrantes de diversos partidos que se reúne com frequência para avaliar a sucessão, formado por Sílvio Costa (PTdoB-PE), Miro Teixeira (Rede-RJ), Espiridião Amin (PP-SC), José Carlos Aleluia (DEM-BA), Benito Gama (PTB-BA), Rubens Bueno (PPS-PR) e Heráclito Fortes (PSB-PI). Os parlamentares decidiram apoiar um nome que não seja ligado a Cunha e também não integre o PSDB nem o PT. Sílvio Costa ressalta que o PSDB está sendo trabalhado por Temer para votar no candidato costurado com Cunha. “Hoje, se você for na Câmara, encontra mais de 30 candidatos. Não tem nenhum nome certo ainda. É importante lembrar que quem vencer será o coordenador da sucessão do próximo presidente. Outro ponto: o chamado tampão será vice-presidente da República em caso de confirmação do impeachment de Dilma Rousseff no Senado“.

Alguns parlamentares da nova oposição acreditam que, politicamente, era até melhor um aliado de Cunha assumir a Câmara porque, neste caso, ficaria evidente que Temer é refém dele. Um grupo de deputados alinhados a Dilma diz reservadamente que não fará esforço para barrar qualquer nome indicado por Cunha. Existe até a possibilidade de o PT não lançar nome e abraçar a candidatura de consenso construída entre a nova e antiga oposição.

O deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), aliado fiel de Temer, avalia que o governo precisa esperar a renúncia de Cunha para mexer as peças no tabuleiro. Os peemedebistas mais próximos do governo defendem que Temer se mantenha afastado da turbulência política da Câmara se não houver um nome fruto de um amplo acordo. Por essa tese, o Planalto só entraria na disputa se houvesse um candidato do governo contra um da oposição. Entre os nomes que poderiam surgir de consenso entre Centrão, Centrinho e PMDB estão Antônio Imbassahy (PSDB-BA), Rodrigo Maia (DEM-RJ), Agnaldo Ribeiro (PP-PB), Milton Monti (PR-SP), Giacobo (PR-PR), Julio Delgado (PSB-MG) e Osmar Serraglio (PMDB-PR). A avaliação é de que Serraglio recuou ao bancar o deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF), aliado de Cunha, para relatar o recurso apresentado na CCJ pelo peemedebista. Desde que Temer assumiu o Planalto, em 12 de maio, são nítidas as divergências entre o centrão, mais alinhado a Cunha, e o centrinho. O primeiro grupo conseguiu emplacar o líder do governo, André Moura (PSC-SE). O certo, por enquanto, é que a neutralidade pretendida pelo Planalto na disputa é casa vez mais difícil. (Colaboraram Paulo de Tarso Lyra e Julia Chaib)

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