Dilma mostra convicção de que terá votos para barrar impeachment na Câmara, mas se esforça para manter o PMDB na base aliada. Renan e ministros manifestam apoio
Brasília — A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem estar convicta de que o governo tem os 172 votos necessários para derrotar o impeachment no plenário da Câmara. “A gente tem que esperar o processo acontecer. Eu tenho convicção de que nós teremos os votos necessários”, declarou. Na contabilidade presidencial entram pelo menos parte dos votos do PMDB, o que justifica o empenho dela em manter a legenda no governo. Dilma afirmou que quer “muito” que o PMDB permaneça na base, e que o ex-presidente Luiz Inácio Lula não está tratando disso, mas sim os seus ministros. A presidente disse também que está “lutando” para que Lula assuma a Casa Civil.
Em visita às obras de infraestrutura de solo para operação de satélite no Centro de Operações Espaciais, em Brasília, Dilma reafirmou o discurso que vem fazendo há alguns dias para reaproximar o governo do partido. “Nós queremos muito que o PMDB permaneça no governo. Tenho certeza que meus ministros têm compromisso com o governo”, disse Dilma, e completou: “O presidente Lula não está tratando disso”.
Apesar da pressão dos ministros e de senadores peemedebistas para adiar a reunião do diretório nacional do partido que deverá definir pelo desembarque do governo Dilma, o presidente da legenda, Michel Temer, decidiu manter o encontro para a próxima terça-feira. Ele estará em Portugal e a discussão em torno da ruptura será conduzida pelo vice-presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), dos maiores defensores do desembarque. Dilma e o ex-presidente Lula estavam pessoalmente empenhados neste adiamento. Lula se reuniu ontem com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e com o ex-presidente José Sarney.
Dilma também agiu ao reunir os sete ministros peemedebistas e determinar que ajudassem na defesa interna do adiamento do desembarque. Na segunda-feira, Dilma falou por telefone com Renan, onde fez o mesmo apelo. O esforço do Planalto encontra amparo em parte dos peemedebistas. Renan demonstrou irritação ontem com a manutenção da reunião do PMDB para o dia 29. Aliado do Palácio do Planalto, Renan defende o adiamento do encontro e, irônico, disse que se acham importante que uma corrente supere a outra, que realizem a reunião. “Se o pessoal acha que é tão importante essa decisão, que o PMDB tem sim que assumir a responsabilidade da crise, do agravamento da crise, tem que realizá-la (a reunião). O PMDB é um partido grande, democrático, não tem dono. Então, se é preciso decidir para que uma corrente suplante a outra, não é o melhor exercício para o partido. Mas, se eles acham isso, deve acontecer”, disse Renan.
Os ministros peemedebistas Celso Pansera, da Ciência e Tecnologia, e Marcelo Castro, da Saúde, afirmaram que, se preciso, voltarão à Câmara para votar contra o impeachment de Dilma. Castro repetiu o que disse Renan e afirmou que o nome do processo “não é impeachment”, mas evitou usar o termo “golpe”. Pansera, por sua vez, disse que os ministros da sigla no governo fariam uma reunião ainda ontem.
Quanto ao imbróglio que envolve Lula e a Casa Civil, que deve se estender por mais uma semana, Dilma afirmou que está lutando para que o ex-presidente seja o titular da pasta. “Não só acredito como estou lutando para tal” – disse a presidente, ao ser questionada se ela acredita que Lula voltará ao Planalto como ministro. Dilma disse que achou “importante” a decisão do ministro do Supremo que passou para o STF as investigações contra o ex-presidente Lula.
O presidente da comissão especial do impeachment, deputado Rogério Rosso (PSD-DF), afirmou que vai pedir uma audiência informal no Supremo Tribunal Federal (STF) para tirar dúvidas sobre a condução dos trabalhos na Câmara.
Rosso disse que gostaria de se reunir segunda-feira, junto com o relator Jovair Arantes (PTB-GO), com o presidente da Corte, ministro Ricardo Lewandowski, ou com o ministro Luís Roberto Barroso, para esclarecer os limites da comissão processante dentro do que é previsto pela Constituição.
NOVO PEDIDO O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, entregará à Câmara, na segunda-feira, novo pedido de impeachment de Dilma. Entre os motivos estão as “pedaladas fiscais”, a renúncia fiscal em favor da Fifa e a intenção de beneficiar o ex-presidente Lula na Lava-Jato, dando ao petista cargo que dá direito ao foro privilegiado.
O novo pedido de impeachment cita o artigo 85 da Constituição, que estipula crime de responsabilidade quando o presidente da República pratica atos contra o livre exercício de algum dos poderes, contra a probidade na administração, contra a lei orçamentária ou contra o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Aécio critica
O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, criticou ontem o envio de telegramas por parte de um funcionário do Itamaraty para todas as embaixadas do Brasil no exterior alertando para a possibilidade de um “golpe’ político no país. Para ele, o governo tentar criar um discurso “alarmista” e “distante da realidade”. “É inaceitável a forma como a presidente Dilma tem usado instrumentos do Estado para se manter no governo”, afirmou Aécio. Para o tucano, a manifestação demonstra que Dilma não tem mais argumentos para se defender e busca criar um “estado golpista” no país. Segundo ele, não vai ser com “ameaça” e atitudes antirrepublicanas que o governo resolverá a crise. Aécio afirmou que o processo de impeachment da presidente teve o rito aprovado pelo Supremo e a própria bancada do PT chancelou o processo ao aprovar os integrantes da comissão especial da Câmara.