Planalto mapeia votos de aliados e faz as contas para liberar recursos para tentar obter maioria na comissão que analisa afastamento e nos plenários da Câmara e do Senado
Paulo de Tarso Lyra
Brasília – O governo quer esquecer o ajuste fiscal e liberar investimentos, emendas e acelerar a nomeação de cargos para tentar fidelizar a base de apoio na Câmara e impedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff. PSD, PTB, PR, PDT e PP, legendas rebeldes, comandam juntas um orçamento de R$ 49,4 bilhões em seus ministérios. Somadas, as respectivas bancadas totalizam 160 deputados. A conta é fria: o apoio de cada deputado destes partidos significa um desembolso de R$ 308,7 milhões por parlamentar. Essa conta não inclui, obviamente, o PMDB e seus sete ministérios, pois a legenda vive a expectativa de poder com Michel Temer. Nem PT e PCdoB, legendas fechadas contra o afastamento da presidente.
O governo precisa, de fato, abrir o cofre. Para onde o Planalto se vira, há problemas. Na comissão do impeachment, que analisa o processo de afastamento da presidente, o governo diz ter garantido 32 dos 65 votos, uma conta na risca, já que o presidente do colegiado, Rogério Rosso (PSD-DF) só vota se houver empate. No plenário da Câmara, para barrar o processo de impeachment, o Planalto e seus articuladores calculam contar com 150 votos cristalizados. São necessários, ao menos, 171, para impedir o afastamento de Dilma. A matemática tem sido cruel para os governistas. A estimativa é de que haja uma margem de 50 a 60 deputados ainda indecisos, maleáveis a possíveis argumentos. Na prática, isso significa que 90% dos 513 deputados já se decidiram pela permanência ou afastamento da presidente.
“Para respirar aliviada, Dilma teria de ter uma margem de 200 a 220 votos cristalizados, para evitar os riscos de uma votação aberta. Essa é a base aliada que persegue desde que foi reeleita em 2014 e que jamais conseguiu”, admite, desolado, um petista bom de conta. “Se formos para o plenário com 150 votos, esse número despenca para 100. Mas se chegarmos com 200, podemos crescer para os 220. É o efeito manada”, diz o mesmo estrategista.
Se for derrotada na Câmara, Dilma ainda tenta contar com os senadores para preservar o mandato. Se o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL) aceitar a abertura do processo encaminhado pelos deputados, automaticamente Dilma é afastada do cargo por até 180 dias. Renan já avisou que, ao contrário do que prometia em dezembro, não decidirá essa questão monocraticamente, passará para o plenário da Casa. A oposição precisa de 54 votos para cassar a petista. Hoje , pelos cálculos dos próprios governistas, os adversários do Planalto já tem 41.
O cálculo de um defensor do impeachment é cruel para o Planalto. “Se eu disser que defendo a Dilma hoje nas ruas, apanho”, admite ele, não se sabe se utilizando linguagem figurada ou concreta. Mesmo que ele compre a briga, a batalha não renderá dividendos políticos. “Quem hoje defende a Dilma vota no PT, no PCdoB. Não é meu eleitorado. Ou seja, ser contra o impeachment não me dá um voto a mais e ainda afasta aqueles que me elegeram em 2014”, avalia um parlamentar, pedindo anonimato.
A conta prática, em ano de eleições municipais, é cristalina. O PSD de Rogério Rosso (DF), presidente da comissão especial do impeachment, liberou a bancada para votar como bem entender. O ministro das Cidades, Gilberto Kassab, não pretende abandonar o cargo, mas ele tem pouca ascendência na bancada. “Hoje, o cálculo é de 55% deputados fiéis ao governo e 45% defensores do impeachment”, diz um dirigente pessedista. “Antes dos grampos envolvendo a conversa de Dilma com o ex-presidente Lula, essa margem pró-Planalto era muito maior”, admite o cacique do PSD.
APOSTA O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (RS), que teve de intervir na eleição de líder da bancada na Câmara para evitar que o partido derrapasse para a oposição, aposta ainda que a maior parte da legenda mantenha-se alinhada ao Planalto após ter mantido — com um técnico, não um político — o comando do Ministério da Integração Nacional. A aposta pode ser arriscada. Vinte e dois deputados e quatro senadores aprovaram uma resolução exigindo que Ciro marque uma reunião do comando do partido na quarta-feira para definir se o PP é base ou oposição. “É quase a metade dos deputados e dois terços dos senadores. Queremos uma definição em convenção de emergência da legenda antes da votação do impeachment na Câmara, prevista para a segunda quinzena de abril”, disse o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS).
O PR também está dividido. Um integrante do comando partidário faz e refaz as contas e não sabe se a titularidade no Ministério dos Transportes será suficiente para manter a bancada coesa em torno do Planalto. “Tivemos manifestações de rua marcadas e espontâneas pelo impeachment, grampos de Dilma e Lula, do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e as delações do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS). É muita notícia ruim para um governo só”, reconhece um deputado do PR.