A política no Brasil não toma jeito mesmo. Nem mesmo a liturgia do cargo seus mais altos agentes não respeitam. A começar, pasmem, da própria presidente da República. Dilma Rousseff (PT), desde que sentiu o risco de sofrer impeachment, transformou o púlpito de onde discursa em cerimônias oficiais em verdadeiro palanque. E com direito à plateia de militantes petistas e de movimentos sociais. Plateia, aliás, arregimentada pelo próprio cerimonial do Palácio do Planalto.
E é um risco bem calculado, já que estavam marcadas manifestações contra o impeachment para ontem em todo o país. Aliás, não só no país. Até em Lisboa teve protesto, que reuniu cerca de 3 mil pessoas. Já imaginou se tivesse petista na China? Bem, até que os comunistas são próximos do PT, mas a China está em processo de modernização. Os petistas deveriam prestar um pouco mais de atenção na história.
E os resultados dessas ações acabam por tornar ainda mais rasteira a política no país. Dá para imaginar a fidelidade partidária e o compromisso com a Nação de partidos que colocam o seu apoio à presidente ou à oposição em leilão? Quem dá mais? Quem dá mais? O leiloeiro pergunta, mas não é ele quem vai bater o martelo. Triste sina brasileira. Triste cena brasileira. Tristes brasileiros que pagam as milionárias chantagens dos parlamentares.
E as frases do dia? O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) provoca: “Impeachment não é golpe. É remédio institucional”. Pelo jeito, amargo para a presidente Dilma, que, pouco tempo depois, em encontro com artistas e intelectuais, revelou: “Aprendi o valor da democracia dentro de um presídio”. É, pelo jeito, regenerou-se.
E para fechar com chave de ouro, a presidente Dilma Rousseff (PT) esquece os livros de história que leu e compara o “clima de intolerância vivida atualmente no Brasil ao nazismo”.
Maldade aos poucos
Em tradução livre, Maquiavel já ensinava: “Maldade a gente faz de uma vez só. Bondade, a gente faz aos poucos”. E a presidente Dilma Rousseff (PT), pelo jeito, vai seguir a cartilha. Na quarta-feira, demitiu o diretor-geral do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs), Walter Gomes de Sousa, e o diretor da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Rogério Abdalla. Começava a retaliação pelo rompimento do PMDB. Antes, já havia exonerado o presidente da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Antonio Pires, ligado ao vice-presidente Michel Temer. É, pelo jeito, Dilma inverteu o conselho de Maquiavel.
Que coisa!
O mundo dá voltas mesmo. E a história está aí para ser relembrada. Em 1988 e 1989 foram encaminhados à Assembleia Legislativa dois pedidos de impeachment do então governador Newton Cardoso, ao mesmo tempo em que pipocavam greves em todos os setores do governo. Deputados do Partido dos Trabalhadores (PT) colheram mais de 100 mil assinaturas “contra a corrupção”. Os pedidos de cassação de Newton movimentaram a Assembleia, que teve sessão quase o dia todo. Na Revista do Legislativo, número 42, de janeiro a dezembro de 2009, está com tudo registrado (foto). Pergunta que não quer calar: por que naquela época os petistas não achavam que era golpe e agora acham que tudo é golpe? Que coisa.
De casa nova
Agora é oficial. O senador Zezé Perrella (MG), que estava sem partido, desde que deixou o PDT, assina ficha de filiação ao PTB na terça-feira da semana que vem. Perrella, no entanto, firmou antes um compromisso com a presidente nacional do partido, Cristiana Brasil (RJ), que é filha do polêmico Roberto Jefferson, e com o presidente estadual da legenda, deputado Dilzon Melo, de que terá plena liberdade para fazer oposição ao governo da presidente Dilma Russeff (PT).
Antes da hora
Está explicada a atual divisão do PMDB no Congresso. Estava tudo combinado que, em 15 de abril, o partido inteiro iria romper oficialmente com o governo da presidente Dilma Rousseff (PT). Só que o presidente nacional do partido e vice-presidente da República, Michel Temer, e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atropelaram os colegas e lançaram antes a dissidência. Um experiente parlamentar diz que, com o PMDB unido, o impeachment de Dilma seria mais fácil. Agora, não está mais garantido.
Mas só agora?
Foi criada ontem a Frente Parlamentar Mista (que reúne senadores e deputados) em Defesa dos Direitos dos Trabalhadores. O lançamento foi feito em sessão da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH). Quem vai presidir a frente é o senador Paulo Paim (PT-RS). Mas ele não precisava sair com essa: “A frente parlamentar vai ampliar e fortalecer o diálogo social dos representantes dos trabalhadores com os parlamentares. O objetivo é defender os direitos desse segmento da população, combatendo propostas de legislação que limitem ou reduzam os seus direitos”.
PINGAFOGO • O senador Humberto Costa (PT-PE) será o presidente e o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) o vice-presidente da comissão especial que avalia a Medida Provisória que cria a Justiça Desportiva Antidopagem.
• Também foram confirmados, por aclamação, os nomes do deputado Celso Jacob (PMDB-RJ) como relator da proposta e do senador Telmário Mota (PDT-RR) como relator-revisor.
• A inflação caiu, o desemprego caiu, os políticos agora são honestos e não mais aceitam propinas para votar projetos. O mesmo está acontecendo entre os senadores. E a presidente da República bate recordes de aprovação popular.
• Percebeu o quanto o país melhorou? Ou lembrou que dia é hoje? Primeiro de abril! Primeiro de Abril! Primeiro de Abril! E nossos nobres parlamentares devem aproveitar para mentir um pouco mais no Dia da Mentira. Pelo menos desculpa, eles têm.
• O presidente da Comissão Especial do Impeachment, deputado Rogério Rosso (PSD-DF), em meio a ânimos exaltados chegou a oferecer uma Bíblia (foto), que está na mesa da comissão, para consulta por parte dos parlamentares.
• E ainda tripudiou dos colegas: “A Bíblia está aqui para este momento de dificuldade”. É, só rezando mesmo para enfrentar este momento político brasileiro.