Estado de Minas | Política: Candidato único para a cadeira de Cunha

Apesar de afirmar que não se envolverá, governo articula nome de consenso para substituir Eduardo Cunha na presidência da Câmara dos Deputados caso ele seja cassado em plenário

Luiz Carlos Azedo

Brasília — O Palácio do Planalto articula uma candidatura única da base, com mandatotampão até 1º de fevereiro de 2017, para a sucessão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Presidência da Câmara. A disputa entre a bancada do PMDB, o chamado “centrão” e a antiga oposição (PSDB, DEM e PPS) pelo comando da Casa seria adiada para o próximo ano para não atrapalhar a aprovação do impeachment no Senado nem a votação das medidas do ajuste fiscal. O confuso Waldir Maranhão (PP-MA), presidente interino da Câmara, se tornou um estorvo para o governo por não conseguir conduzir os trabalhos da Casa, até porque a maioria dos deputados se recusa a participar de sessões presididas por ele.

Ao contrário do Conselho de Ética, onde os prazos são contados por sessões, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), à qual o presidente afastado da Câmara recorreu do pedido de cassação por quebra de decoro, os prazos são contabilizados por dias corridos. Ou seja, com sessão em plenário ou sem, na quinta-feira o relatório terá de ser apresentado no colegiado.

Ocorre que o relator designado inicialmente, deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), renunciou à função. Ele justificou a decisão explicando que não se sentiria confortável em ter que, eventualmente, proferir alguma decisão contrária ao parecer de Marcos Rogério (DEM-RO), seu colega de partido. O presidente da CCJ, Osmar Serraglio (PMDB-RJ), deve anunciar hoje o novo relator, mas os prazos estão correndo. Serraglio mandou distribuir cópias do recurso de Cunha a todos os membros da comissão. Para o peemedebista, independentemente do conteúdo do parecer que será produzido, os argumentos do relator terão pouca influência na votação do colegiado já que a análise não é só técnica, mas política. Cunha alega que o relator da cassação, Marcos Rogério, ao trocar o PDT pelo DEM, tornou-se impedido.

A decisão na CCJ será disputada, mas a maioria deve recusar o recurso de Cunha. Por essa razão, aceleram-se as articulações para a sucessão. Caso seja aprovada a cassação em plenário, a eleição do novo presidente ocorrerá cinco dias. Até mesmo aliados mais próximos de Cunha, como Nélson Meurer(PP-PR), que na semana passada virou réu em processo da Operação Lava-Jato, avaliam que o peemedebista será cassado se o pedido for a plenário. Ou seja, a última batalha para retardar a decisão é a próxima reunião da CCJ, cuja pauta ficará trancada até que o caso seja decidido.

MUDANÇAS Na Câmara, as principais lideranças dos grandes partidos mudaram recentemente. No PMDB, Leonardo Picianni (RJ) foi para o Ministério do Esporte e em seu lugar assumiu Baleia Rossi (SP), homem de confiança do presidente interino, Michel Temer. No PSDB, Antônio Imbassahy (BA) ocupou o lugar de Bruno Araújo (PE); e Mendonça Filho (PE) trocou a liderança do DEM pela Educação, ficando em seu posto Pauderney Avelino (AM). Nesse troca-troca, as lideranças do chamado centrão passaram a dar as cartas, emplacando, inclusive, o líder do governo, o deputado André Moura (PSC-SE). O resultado é a falta de consenso na base do governo sobre a sucessão.

“A saída é definir uma agenda comum, o perfil do presidente e buscar uma candidatura única”, arrisca o líder do PSD, deputado Rogério Rosso (DF), ele próprio um dos cotados para o posto. Outros nomes possíveis são os de Jovair Arantes (GO), líder do PTB; Aguinaldo Ribeiro (PB), líder do PP; o segundo vice-presidente da Câmara, Giacobo (PR-PR) e o primeiro-secretário, Beto Mansur (PRB-SP). Todos são nomes com trânsito junto ao presidente afastado, Eduardo Cunha, que continua sendo um grande eleitor na Casa. Da antiga oposição, estão na disputa Imbassahy e Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Outra opção seria escolher um nome de consenso entre os parlamentares mais experientes como Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), José Fogaça (PMDB-RS), Miro Teixeira (Rede-RJ) e Esperidião Amin (PP-SC), todos com bom relacionamento no Palácio do Planalto. Quem pode costurar o consenso em torno de um desses nomes é Michel Temer, que por três vezes comandou a Câmara, mas está engessado pela situação de Cunha. Qualquer movimento que faça nessa direção seria enterrá-lo vivo, em um momento em que o peemedebista ainda luta desesperadamente para salvar o próprio mandato.

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