O aeroporto vai deixar tudo para trás, porque Papai Noel tomará o lugar da classe política. E as praias vão ficar cheias. É praia de mar mesmo. Não é aquela de “morrer na praia”
Baptista Chagas de Almeida
Em pleno domingo. Será que alguns líderes partidários e os ministros da área política que lá estiveram foram à missa rezar antes do encontro com o presidente Michel Temer (PMDB) no Palácio do Jaburu (da vice-presidência), para discutir um pacote de medidas para tentar aquecer a economia?
Me engana que eu não gosto, porque neste caso, meio mundo político, melhor dizendo, um mundo inteiro de políticos, está encrencado com a delação premiada de Cláudio Melo Filho, ex-executivo da Odebrecht, que não deixou pedra sobre pedra. E desta vez, não foram os apelidos, ele deu devidamente nome aos bois, aos políticos, bem entendido.
“A prioridade do governo do presidente Temer de fato é o ajuste fiscal, a recuperação da economia, a retomada dos investimentos.” A frase é do líder do PSD na Câmara dos Deputados, Rogério Rosso (DF), um dos que mais cedo chegaram para o encontro no Jaburu. O primeiro foi o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Moreira Franco, secretário do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI).
Vale ressaltar: aprovar a medida do teto de gastos em segundo turno no Senado e a reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados antes do recesso parlamentar. Crise por crise, são medidas importantes que podem, para ser otimista, pelo menos estancar ou diminuir a recessão que se avizinha.
Já que tocamos no recesso parlamentar, vale lembrar que a delação contra Temer ainda não foi homologada. Portanto, a novela política entra naquela fase de encher linguiça, como se diz na gíria, porque todo o mundo político e jurídico vai tirar férias. Que já começa, pelo menos no Congresso, ainda hoje, no máximo amanhã.
O aeroporto vai deixar tudo para trás, porque Papai Noel tomará o lugar da classe política. E as praias vão ficar cheias. Preste atenção, é praia de mar mesmo. Não é aquela de “morrer na praia”. O maremoto político fica para depois. Até porque, antes de chegar a Temer, tem uma lista de mais de 70 políticos na fila.
A previsão é de que Michel Temer deve ficar no comando da Nação até 2018, se ele cumprir a promessa de não disputar a reeleição. Quem disse isso? Ele mesmo, junto com aquela frase avisando o seu objetivo político: “Vou colocar a economia nos trilhos”. E olha que foi em abril.
Pelo andar da carruagem, o presidente pode até cumprir a promessa. Perde o foro privilegiado — Lula que o diga — mas sabe que pouca chance tem de vencer mesmo se continuar na Presidência da República. Bem, sabe-se lá. Vai que as medidas da economia dão certo. E a velha frase que a coluna tanto repete, de James Carville, o marqueteiro de Bill Clinton em sua reeleição no comando dos Estados Unidos: “É a economia, estúpido”.
Anatel em audiência
Será na Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) do Senado. É isso mesmo. Ela cuida de tudo isso, da ciência à informática. E amanhã ela promove debate, em audiência pública, para discutir medidas que melhorem e fortaleçam a estrutura da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Pode anotar que o telefone não vai ficar mudo. Quem solicitou? Uma coleção de senadores, nem dá para citar todos, até porque alguns deles apresentaram mais de um requerimento. Mudo não ficará, mas ocupado, quem sabe?
Ele é humorista
O deputado estadual Durval Ângelo (PT) agora é também escritor. Lança amanhã o livro Tempos de resistência: escritos políticos 2016. Será no início da noite, no teatro da Assembleia Legislativa (ALMG). O livro foi organizado cronologicamente, em uma espécie de diário de bordo, informa o próprio Durval. A apresentação é do encrencado na Lava-Jato ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas o melhor mesmo é o prefácio do livro, do ator e humorista Bemvindo Sequeira. Ele vai exibir o seu mais novo stand-up comedy Dona Encrenca, só muda o endereço. Dona Encrenca? Piada pronta, lógico, ele é humorista.
“Ninguém pode prever nada para daqui a meia hora. A política é analógica e o mundo é digital. Ela não tem a velocidade da sociedade”
Do deputado federal Mário Heringer (PDT-MG), sobre a atual situação política no Congresso. E ele acrescenta que os políticos perderam a credibilidade totalmente.
Sessão suspensa É, está ficando repetitivo mas tem hora que não dá para resistir. Sério mesmo. Vou direto ao bigode — aquela linha que vem embaixo do título — “Sessão plenária agendada para esta segunda-feira não será realizada em virtude do falecimento do deputado João Castelo”. Qual é a virtude diante da morte de um parlamentar? O título, sem querer, explica na primeira linha: “MP do ensino médio está na pauta do plenário; sessão desta segunda será suspensa”. A Medida Provisória (MP) deveria ensinar que é melhor escrever “por causa” do que “em virtude”. Sobre suspender os redatores do site, melhor deixar para lá.
Azar danado
Foi mesmo, mas já que o dinheiro já havia sido gasto, a pesquisa Datafolha foi publicada. Alguns detalhes: o ex-presidente Lula, com 25%, lidera as intenções de voto no primeiro turno das eleições de 2018. Marina Silva (Rede) tem 15% e Aécio Neves (PSDB), 11%, tecnicamente empatado com ela, no limite da margem de erro. Ou seja, Marina está praticamente na frente. Lula também lidera em outros três cenários de primeiro turno simulados pela pesquisa. Em um deles, a pesquisa colocou o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e fica assim: o tucano tem 8%. Marina vai a 17% e Lula tem 26%. É, só que tudo isso foi antes da delação premiada da Odebrecht, que vai levar Lula ao juiz Sérgio Moro, da Lava-Jato. Então, vale nada.
PINGAFOGO
Em tempo: toda a imprensa tratou a reunião de domingo do presidente Michel Temer (PMDB) acompanhada do termo “de emergência”. É a delação premiada na Operação Lava-Jato, mas a pauta do Congresso serve de boa desculpa.
Suplente é suplente, fica para depois. É que o prefeito Alexandre Kalil e os vereadores da Câmara Municipal de Belo Horizonte serão diplomados segunda-feira que vem pela Justiça Eleitoral, no Salão do 1º Tribunal do Júri do Fórum Lafayette.
Já os suplentes não serão diplomados na ocasião, poderão retirar os seus diplomas posteriormente, na sede do Foro Eleitoral de Belo Horizonte, que fica na Avenida do Contorno, 7.038 — Lourdes.
Não dá para resistir: aquele site petista que nem despista, desta vez exagerou. “Com a imagem abalada desde o episódio Renan Calheiros, em que os ministros do Supremo Tribunal Federal participaram de um conchavo com Michel Temer para salvar o senador”, eles ainda têm uma “saída honrosa”.
E qual é esta “saída honrosa”? É julgar o mandado de segurança apresentado pelo advogado José Eduardo Cardozo, que pede anulação do “golpe parlamentar de 2016″. Golpe? Que golpe? Resposta rápida: o impeachment de Dilma Rousseff (PT).