Em nova rodada de troca de insultos e até de tapas entre deputados, Conselho de Ética adia pela sexta vez sessão que discute abertura do processo de cassação do presidente da Câmara
Isabella Souto
A semana que começou com bate-boca e a destruição de urnas eletrônicas no plenário da Câmara dos Deputados terminou com mais um episódio de baixaria protagonizado por deputados federais. Troca de tapas e palavrões entre Zé Geraldo (PT-BA) e Wellington Roberto (PR-PB) levaram ao sexto adiamento da reunião do Conselho de Ética, que discute o processo disciplinar que pode levar à cassação do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por quebra de decoro parlamentar. A leitura e a votação do novo parecer do relator Marcos Rogério (PDT-RO) ficaram marcadas para terça-feira que vem, aumentando ainda mais as chances de a questão não ser resolvida neste ano, já que o recesso parlamentar começa em duas semanas.
A briga no conselho — que, teoricamente, teria que zelar pela observância dos preceitos éticos e aplicar penalidades em caso de quebra de decoro — começou durante uma discussão sobre o painel de registro de presença. Aliados de Cunha questionaram a demora na abertura do painel alegando que alguns suplentes chegaram cedo para marcar a presença e garantir a preferência na votação em caso de ausência do titular. Ao reclamar da demora, o deputado João Carlos Bacelar (PR-BA) foi acusado de querer “tumultuar o processo”. Diante da insistência dele, parlamentares da base aliada disseram que “a turma do Cunha quer bagunça”. No calor do momento, Zé Geraldo e Wellington Roberto se desentenderam e trocaram tapas. Eles precisaram ser contidos para não partir para uma agressão física maior. Mas continuaram o bate-boca.
Um acusou o outro de ter “metido a mão”. “Você que me meteu a mão”, gritou Zé Geraldo. “Que meti a mão o quê, rapaz”, revidou Roberto. “Você me respeita. Você chamou de moleque todo mundo aqui, a turma do Cunha. O presidente não tem turma aqui não. Quem tem turma é ladrão”, esbravejou Wellington, enquanto era contido por colegas. Eles ainda se chamaram de “filho de uma égua”. Depois que os ânimos se acalmaram, o presidente da Comissão, José Carlos Araújo (PSD-BA), pediu respeito aos deputados e informou que vai solicitar o vídeo e o áudio para conferir o que aconteceu.
“O Conselho de Ética não é palco de briga nem de esforço físico. É palco de conversa, diálogo, entendimento. Não pode ser ringue de luta livre. É um absurdo. Vou encaminhar à Corregedoria para tomar as devidas providências”, afirmou Araújo. O tumulto ocorreu um dia depois de outra sessão conturbada. Na tarde de quarta-feira, houve a troca do relator do processo, até então o deputado Fausto Pinato (PRB-SP). A sessão foi marcada por brigas e xingamentos entre os parlamentares. O presidente do Conselho acusa os aliados de Cunha de manobrarem para atrasar os trabalhos. Eles, por sua vez, questionam a sua isenção à frente do comando do colegiado.
O novo relator, Marcos Rogério (PDT-RO), disse ontem não temer ameaças. Seu antecessor havia dito ter sofrido retaliações. O parecer de Rogério será, assim como o do seu antecessor, pela admissibilidade do processo, que acusa Cunha de ter mentido à CPI da Petrobras no início do ano, quando negou ter contas no exterior. Opositores ao presidente da Câmara tentam conseguir votos suficientes para apresentar um projeto de resolução para o afastamento de Cunha do cargo.
A TURMA DO CUNHA Manoel Júnior (PMDB-PB)
Em seu segundo mandato, o deputado tem sido hábil na apresentação de requerimentos para adiar as reuniões. Na última quarta-feira, foram três. Foi fiel escudeiro de Cunha durante a campanha pela presidência da Casa. Em 2009, foi denunciado pelo uso irregular na cota de passagens aéreas pela Câmara.
Sérgio Moraes (PTB-RS)
Está no terceiro mandato. Foi um dos defensores do afastamento do relator Fausto Pinato (PRB-SP) e tem apresentado requerimentos para adiar as reuniões. “Acusar um homem sem prova é um ato que não deve se cometer nesta Casa”, disse.
João Carlos Bacelar (PR-BA)
Está na linha de frente em defesa de Cunha. Apresenta questões de ordem, votou contra o prosseguimento do processo contra Cunha e defende pena alternativa para o presidente. Tem usado o regimento com a habilidade para obstruir as reuniões.
Carlos Marun (PMDB-MS)
Novato na Câmara. Organizou a festa de aniversário de Cunha em um restaurante de Brasília, em setembro. Recusa-se aceitar a denúncia do Ministério Público (MP) contra o depurado. “Não posso aceitar denúncia do MP como prova porque, senão, se eu não rasgar meu diploma eleitoral, tenho que rasgar o meu de advogado”, disse.
Paulinho da Força (SD-SP)
Está no terceiro mandato. Tem dito que Cunha não é corrupto. “A culpa é do PT, do Lula e da Dilma”, disse.
Vinícius Gurgel (PR-AP)
Está no segundo mandato. Sempre chega no fim das reuniões pedindo a palavra e provocando tumulto. Sempre pede questão de ordem e tem dado a sua contribuição para arrastar as sessões. Chegou a figurar em lista tríplice para relatar o processo contra Cunha.
BAIXARIA AO VIVO Confira trechos do bate-boca entre os deputados Zé Geraldo (PT-PA) e Wellington Roberto (PR-PB)
ZG: A turma do Cunha quer bagunçar aqui hoje, presidente. É tudo bagunceiro.
WR: Bagunceiro é você. Você é bagunceiro.
ZG: Você fica bagunçando aqui atrás de mim.
(…)
ZG: Filho de uma égua!
WR: Você que é filho de uma égua…
ZG: Eu tô falando e ele vem me meter numa sujeira dessa…
WR: Não aceito que toque em mim. Você me respeite…
(Gritos)
ZG: Cale a sua boca
WR: Oxente. Calar a boca… Quem é você para me mandar calar a boca aqui?
ZG: Você não é homem para me tocar.
WR: Você que me tocou. Você que me tocou.
ZG: Você que me meteu a mão.
WR: Que meti a mão o quê, rapaz?
ZG: Meteu sim.
WR: Meti a mão em você p… nenhuma!
ZG: Eu falo o que eu quiser e você fala o que você quiser, agora meter a mão, não.
WR: Você me respeita. Você chamou de moleque todo mundo aqui, a turma do Cunha. O presidente não tem turma aqui, não. Quem tem turma é ladrão.