BRASÍLIA – O Sistema Cantareira vai precisar de um “dilúvio” até o fim deste ano para voltar ao nível de janeiro de 2014, segundo afirmou nesta quinta-feira, 13, o diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, em audiência na Câmara dos Deputados. Em resposta, o governo do Estado acusou o dirigente de disseminar o pânico e de “sabotar” as parcerias que o momento exige.
“Para chegar a janeiro do ano que vem, precisamos de um dilúvio”, disse Andreu. Segundo ele, o principal sistema de abastecimento da região metropolitana de São Paulo precisa de 500 bilhões de litros de água para voltar ao nível de 10 meses atrás e, assim, iniciar o próximo ano com capacidade para enfrentar o próximo período de seca. Para isso, segundo o presidente da ANA, é preciso repor um déficit hídrico de cerca de 20% no manancial e recompor o superávit hídrico de 25% registrado pelo sistema em janeiro deste ano.
Nesta quinta, o Cantareira estava com 10,8% da capacidade – o manancial opera hoje somente com o chamado volume morto, a reserva profunda. “Estamos tentando demonstrar que as chuvas não estão vindo e, se elas não vierem, a situação vai se agravar”, disse o presidente da ANA. Ele participou de audiência da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio (CDEIC) da Câmara. “O Sistema Cantareira está próximo de 20% negativo. Isso significa que estamos com um déficit a ser suprido.”
O cenário, contudo, não é de precipitações fartas para a agência. Andreu criticou as previsões da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paul (Sabesp) sobre o potencial de chuva para o Cantareira. “Essa persistência em olhar para o futuro de uma maneira otimista em relação às precipitações faz algumas decisões, que precisam ser tomadas para um cenário mais conservador, não serem tomadas. Em consequência, o risco para o futuro passa a ser brutal”, afirmou.
Andreu também destacou que “as obras anunciadas pelo governo do Estado não resolvem a situação”. Nesta semana, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e a presidente Dilma Rousseff acertaram a criação de um comitê para analisar iniciativas de até R$ 3,5 bilhões – a primeira reunião ocorre na segunda-feira.
“Essas obras entrarão em funcionamento, na melhor das hipóteses, em um ano ou dois”, afirmou o presidente da ANA, ressaltando que faltam opções a curto prazo. “A solução para essa situação é chover, e muito”, disse.
60 dias de chuva. Presente na mesma sessão, a procuradora regional da República da 3.ª Região (São Paulo), Sandra Akemi Shimada, acusou a empresa paulista de abastecimento de não informar a realidade à população. “A sociedade está sendo privada de informações. As informações têm de chegar às pessoas. É preciso falar, sim, de dilúvio”, considerou a procuradora, que é integrante do Grupo de Trabalho sobre Águas (GT Águas) do Ministério Público Federal.
Para Sandra, será necessário chover durante 60 dias seguidos o mesmo volume da “pior chuva” dos últimos seis anos para recuperar o Cantareira até janeiro. “Essa aposta levará ao esgotamento do Cantareira, deixando à própria sorte 14 milhões de pessoas.”
O deputado Guilherme Campo (PSD-SP), autor do requerimento que resultou na audiência pública desta quinta, também criticou a Sabesp pelo excesso de perspectivas otimistas em relação às chuvas. “Se não houver o dilúvio, vai faltar água. Não tem muita mágica, é fazer conta. Jogar com perspectivas otimistas no cenário mais prolongado é faltar com a verdade.”
Os deputados também reclamaram da ausência da presidente da Sabesp, Dilma Pena. Ela recusou participar da audiência por estar “trabalhando diuturnamente para resolver a crise hídrica paulista”.
Bandeirantes. Em nota oficial, o Palácio dos Bandeirantes voltou a dizer que Andreu dissemina o terror. “Mais uma vez, o presidente da ANA prefere disseminar o pânico na população a abordar, com a seriedade técnica que seu cargo exige, a pior seca da história”, afirma o subsecretário de Comunicação, Marcio Aith. “A frivolidade de suas declarações públicas ofende os paulistas, despreza o esforço de todos no uso consciente da água e sabota as parcerias que o momento exige.”