Adversários históricos, PT e PCdoB se aproximaram de DEM e PSDB para buscar um candidato alternativo ao nome que será apresentado pelo grupo de partidos liderado por PP, PSD, PR e PTB
BRASÍLIA – Certos da cassação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), líderes partidários intensificaram nesta semana as discussões sobre o nome que sucederá o peemedebista na presidência da Câmara. Adversários históricos, PT e PCdoB se aproximaram de DEM e PSDB para buscar um candidato alternativo para se contrapor ao nome que será apresentado pelo “Centrão” – grupo de 13 de partidos liderado por PP, PSD, PR e PTB. Os “novos aliados” querem um presidente que não seja ligado a Cunha e, principalmente, passe longe das investigações da Operação Lava Jato.
Com o discurso de que o cargo de presidente da Câmara “não pertence a um grupo” e que o sucessor de Cunha “não será imposto por ninguém”, a nova oposição ao governo Michel Temer e a antiga oposição ao governo Dilma Rousseff alegam que a Casa não pode voltar a sofrer o desgaste de ter um comandante investigado pelo Ministério Público Federal, na mira do Supremo Tribunal Federal e alvo de representação no Conselho de Ética. “O propósito de todos é não permitir que haja reincidência”, resumiu o líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA).
As primeiras conversas entre a antiga e a nova oposição aconteceram com o intuito de discutir a destituição de Waldir Maranhão (PP-MA) da presidência interina. Com a aprovação do pedido de cassação de Cunha pelo Conselho de Ética, o grupo concluiu que o plenário deve julgar o caso em meados de julho e, portanto, é preciso construir um nome forte do bloco que pode ter facilmente o apoio de 200 dos 513 deputados. Os novos aliados dizem contar com boa parte dos 66 deputados do PMDB, que não deve lançar candidato.
Os partidos buscam neste momento definir o perfil do candidato sucessor de Cunha e preferem não fechar nomes. “O novo presidente tem de ter estatura grande, não pode estar contaminado com qualquer tipo de denúncia”, enfatizou o líder do DEM, Pauderney Avelino (AM). Segundo parlamentares envolvidos nas negociações, já teriam se colocado para a disputa os deputados José Carlos Aleluia (DEM-BA) e Júlio Delgado (PSB-MG), adversário de Cunha. Outros nomes citados são os dos deputados Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Arlindo Chinaglia (PT-SP), ex-presidente da Câmara.
O PT sabe, porém, que o nome da legenda pode reduzir o apoio ao candidato do grupo, uma vez que dificultaria a obtenção do apoio de Temer. Ciente disso, o deputado José Guimarães (PT-CE), um dos principais petistas envolvidos nas conversas com DEM e PSDB, diz que o partido pode vir a apoiar um nome de outra legenda. Segundo ele, as negociações, que envolvem ainda o PSB (do lado da antiga oposição) e PDT (junto com a atual minoria), “estão avançando”. Desde a semana retrasada, os novos aliados já se reuniram pelo menos quatro vezes para discutir o assunto.
O grupo torce o nariz às indicações vinculadas ao Centrão, cuja imagem está intimamente ligada a Cunha. No entanto, petistas e tucanos concordam que terão de buscar alguém que transite bem entre todos os partidos, que se disponha a ficar na presidência só por seis meses (a eleição para o mandato de dois anos de presidente da Câmara só acontecerá em fevereiro de 2017). Do lado do PSDB e DEM, também defendem um candidato capaz de conduzir as votações da agenda econômica do governo Temer. Já PT e PCdoB querem um nome que respeite e esteja disposta a negociar as pautas da minoria.
No Centrão, os nomes cogitados como possíveis candidatos são o do atual segundo-vice presidente Fernando Giacobo (PR-PR) e o primeiro-secretário da Mesa Diretora, Beto Mansur (PRB-SP). O ex-relator do processo de impeachment de Dilma e líder do PTB, Jovair Arantes (GO), e o ex-presidente da comissão do impeachment e líder do PSD, Rogério Rosso (DF), também integram a bolsa de apostas. Os três últimos, contudo, dizem não estarem dispostos a disputar um mandato tampão – o candidato eleito não poderá disputar reeleição em 2017 para o mandato de dois anos.
Apesar de ser o principal grupo de sustentação de Cunha na Câmara, passou a crescer no Centrão a discussão de que o nome que eles escolherão não deve ter a pecha pública de aliado do presidente afastado da Casa. Nesse sentido, ganhou força o nome do deputado Esperidião Amin (PP-SC), que tem se posicionado contra Cunha. Ex-governador de Santa Catarina, ele demonstra interesse em disputar o cargo.
A disputa entre Centrão e a antiga oposição tem potencial para trazer mais um problema para o governo Michel Temer. Isso porque, como membros da base aliada de Temer na Câmara, os dois grupos pretendem pedir o apoio do presidente em exercício. Já prevendo esse possível racha, o Planalto diz que o presidente em exercício não pretende se envolver na disputa, pois esse é um assunto do Legislativo. A disputa entre os dois principais grupos vem desde a escolha o líder do governo na Casa, quando Temer preteriu um nome do DEM e escolheu André Moura (PSC-SE).
Com cerca de 220 deputados cada, Centrão, a antiga e a nova oposição terão no PMDB o fiel da balança. Por serem do mesmo partido de Cunha, peemedebistas evitam falar publicamente sobre o assunto. Deputados da sigla próximos a Temer defendem, porém, que a legenda não deve reivindicar o posto, para não trazer mais um problema ao presidente em exercício. Por sua vez, o PSOL deve novamente lançar um terceiro candidato na disputa, para marcar posição. Segundo o líder da sigla, Ivan Valente (SP), um possível nome seria o da deputada Luiza Erundina (SP), pré-candidata a prefeita de São Paulo.
Igor Gadelha e Daiene Cardoso – O Estado de S.Paulo