Presidente do maior partido do Congresso estima que 100 deputados ainda não se definiram; para governistas, oposição mostrou na votação do parecer que não tem dois terços do plenário É clara a divisão dos que buscam apoio entre os congressistas que ainda não tomaram posição
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Brasília – Está aberta e cada vez mais intensa a temporada de caça aos votos de deputados indecisos de partidos em crise interna. Governo e oposição buscam apoio na votação do pedido de abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff , prevista para ocorrer no próximo domingo (17).
As pressões se multiplicaram desde anteontem, principalmente pelos votos dos indecisos do PMDB, PP, PSD e PR, que estão entre as maiores bancadas da Câmara e do Senado. A oposição precisa de dois terços do plenário, ou seja, 342 votos.
Ontem, os deputados do PP informaram que já há maioria no partido em favor da abertura do processo de impeachment e ao desembarque da sigla do governo. Inicialmente, a reunião trataria somente a respeito da saída do partido da base aliada ao Planalto.
O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), resiste à ideia sobre à saída, mesmo assim, o partido entregará o cargo de ministro da Integração Nacional, ocupado por Gilberto Occhi.
O Palácio do Planalto já foi alertado desse movimento. O PP era o principal partido com o qual o governo negociava a distribuição dos cargos resultantes da saída do PMDB. Entre as vagas que chegaram a ser oferecidas estavam o Ministério da Saúde e a presidência da Caixa Econômica Federal.
Indecisões
A indecisão de boa parte dos parlamentares dos demais partidos deve-se também ao fato de que as divergências impossibilitaram fechar questão, quando todos têm que seguir o voto da maioria sob pena de expulsão. Essa medida dura foi cogitada, mas não foi tomada nem mesmo pelo PMDB, cujo presidente em exercício, senador Romero Jucá (RR), preferiu trocar ontem o tom de ameaça por um processo de transição.
Em vez disso, o líder governista do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), sinalizou que a bancada foi liberada. Ele espera contar com 25 votos dos deputados do partido e terá o reforço dos ministros Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) e Marcelo Castro (Saúde). Eles vão se licenciar para votar a favor do governo.
Já o PR divulgou nota de apoio ao governo, depois de conter rebelião provocada pela saída do líder Maurício Quintella (AL). Por outro lado, o PSD contou com três votos contrários ao governo na comissão do impeachment, inclusive do presidente da comissão, Rogério Rosso.
“Não devemos nos apegar a cargos”, declarou Jucá, referindo-se aos seis ministros peemedebistas que ainda permanecem na Esplanada, mesmo após a executiva nacional do partido ter aprovado o desembarque do governo.
“Devemos ter cerca de 330 parlamentares a favor do impeachment, enquanto o governo deve contar com cento e poucos votos”, afirmou Jucá. “No meio disso, há uma massa de indecisos, que deve marchar a favor do impeachment por pressão do povo nas ruas, dos amigos e familiares”.
Na avaliação dele, o resultado na comissão mostra essa tendência porque seus integrantes foram indicados, na maioria, por líderes ligados ao governo, depois de o Supremo Tribunal Federal haver anulada a escolha da primeira comissão, em dezembro.
Para o chefe do gabinete da Presidência, Jacques Wagner, o resultado da comissão reforçou a contabilidade de que o governo possui, em plenário, 213 votos, o que provocaria o arquivamento da medida.
A presidente Dilma elogiou, nas redes sociais, como “heróis da democracia” os 27 deputados que foram contra o parecer na comissão e atacou o vice-presidente Michel Temer por comandar o que chama de golpe. “O relatório da comissão do impeachment é instrumento da fraude”, atacou em um evento para educadores e representantes estudantis no salão nobre do Planalto.
Para Cláudio Couto, professor da Fundação Getulio Vargas, o vazamento de mensagem de Temer em que anuncia a aprovação do impeachment poderá ter efeito inverso – o “de constranger os indecisos com essa pressa toda”.
Couto disse achar difícil acreditar na história de divulgação acidental de Temer, ainda mais após o vazamento da carta que enviou a Dilma em dezembro de 2015.
Abnor Gondim