Em reunião com Temer, líderes dos partidos da base avisam que a proposta de recriação do imposto do cheque não passa na Câmara e fazem pressão pela indicação de André Moura para a liderança do governo na Casa Temer cumprimenta líderes antes da reunião no Planalto: aviso a deputados que o Planalto não vai interferir no imbróglio da Presidência da Câmara
Os líderes do chamado centrão — bloco parlamentar formado por 13 partidos e que pode chegar a 295 congressistas, se contar com a adesão do PMDB — impôs ontem o primeiro revés ao governo de Michel Temer. Em reunião com o presidente interino, eles avisaram que a proposta de recriação da CPMF, o imposto sobre transações financeiras, não passará em hipótese nenhuma na Câmara. O mesmo conjunto de deputados quer empurrar goela abaixo do Planalto outro abacaxi: a escolha do deputado André Moura (PSC-SE) para o cargo de líder do governo.
A proposta de sepultar a CPMF neste momento serviu para unificar o discurso da base, que conta ainda com o PSDB, DEM, PSB e PPS. Mas a escolha de André Moura causa uma cizânia nospartidos que dão sustentação a Temer na Casa. “É claro que a indicação do André tem o dedo do Eduardo Cunha. Se ele for nomeado líder do governo na Casa, a cassação de Cunha não andará nunca”, alertou o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR).
Antes da reunião no Planalto, correu a informação de que os líderes aliados levariam a Temer um abaixo-assinado com quase 300 assinaturas demonstrando apoio a André Moura. Levando-se em conta que, durante a votação do impeachment na Câmara, Temer contou com 367 votos favoráveis ao afastamento de Dilma Rousseff, a intenção, em tese, era emparedar o peemedebista e forçá-lo a anunciar o nome do afilhado de Eduardo Cunha.
O grupo recuou na última hora, mas continua não achando constrangedor que o novo governo tenha como líder na Casa um deputado tão afinado com o presidente afastado da Câmara. “Não vejo constrangimento nenhum. Um líder do governo precisa, sim, ter bom trânsito entre todos os parlamentares. Isso o André tem”, afirmou o líder do PSD, Rogério Rosso (DF).
O ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, negou que tenha sido batido o martelo quanto a uma indicação para a liderança do governo. “O presidente não recebeu indicação de líderes. Este assunto será negociado, tratado, mas é prerrogativa do presidente”, disse. O governo estuda uma terceira via que fuja à indicação de Moura e de Rodrigo Maia, que seria a opção capitaneada por DEM e PSDB. “Enquanto o presidente não designa quem vai exercer a liderança, os líderes dos partidos tocarão a pauta sem nenhuma dificuldade, não tenho dúvida disso”, afirmou Geddel.
Em relação à CPMF, o Planalto concordou em recuar na defesa da volta do imposto neste momento. Temer, inclusive, avisou que vai retirar o projeto sobre o tema que tramita na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.