No dia em que aliado assume uma vaga no Conselho de Ética, Eduardo Cunha vê tucanos defenderem formalmente a saída dele da Presidência da Câmara
Marcella Fernandes
Diante de um cenário dividido no Conselho de Ética, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, garantiu ontem um voto favorável no colegiado. Um aliado, o deputado Paulinho da Força (SD-SP), assumiu a vaga do deputado Wladimir Costa (SD-PA), que renunciou por motivos médicos. Por outro lado, a bancada do PSDB decidiu romper com o peemedebista. De acordo com tucanos, a decisão será lida no plenário da Câmara hoje. O relatório do deputado Fausto Pinato (PRB-SP) sobre a admissibilidade do processo no Conselho de Ética será votado em 24 de novembro, mas no próximo dia 19 ele deve apresentar um parecer prévio. Pinato já admitiu que pode antecipar esta data.
A decisão do PSDB foi tomada por unanimidade durante reunião da bancada na noite de ontem e será levada à Executiva Nacional do partido, que se reunirá no próximo dia 26. “É inadmissível que o terceiro homem na hierarquia institucional do país esteja sendo processado pelo Supremo Tribunal Federal por corrupção e, ao mesmo tempo, responda no Conselho de Ética por ter mentindo a seus pares, quando afirmou que não possuía recursos escondidos no exterior”, disse o secretário-geral da legenda deputado Sílvio Torres, em nota.
Mais cedo, o líder da minoria, deputado Bruno Araújo (PSDB-SP), voltou a afirmar que as explicações dadas por Cunha sobre as transações financeiras no exterior não foram consideradas convincentes e que o afastamento do peemedebista seria a melhor solução para preservar a Câmara como instituição. “A bancada entrega absoluta confiança aos seus dois membros no conselho, que dão demonstrações de reputarem como graves os fatos”, disse.
Já Paulinho disse confiar no peemedebista e nos argumentos apresentados. Em almoço com líderes ontem, Cunha mostrou dois passaportes com 37 carimbos de entradas e saídas em países africanos, para fazer negócios. “Ele começou hoje a apresentar provas consistentes como esta dos passaportes e nós acreditamos desde o início que aqui tem uma briga. Ou tira o Eduardo ou tira a Dilma. Nós preferimos tirar a Dilma”, afirmou. De acordo com outro líder presente no encontro, as viagens aconteceram nas décadas de 1980 e 1990.
O aliado de Cunha negou que a troca seja uma manobra porque, segundo ele, a posição do partido sempre foi de poupar o peemedebista devido ao poder de decisão sobre pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Wladimir Costa, contudo, chegou a classificar como graves as denúncias contra o presidente da Câmara. Ele apresentou a renúncia na manhã de ontem. A saída do colegiado só é permitida nessa situação ou em caso de morte. A indicação de Paulinho havia sido acordada com o líder do partido na Casa, deputado Arthur Maia (BA). Questionado sobre a mudança, Cunha evitou comemorar. “Não estou nem aliviado nem angustiado”, afirmou.
Impeachment
Devido ao fato de o presidente do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo (BA), ser integrante do PSD, o líder do partido na Casa, deputado Rogério Rosso (DF), afirmou que a legenda decidiu não orientar a votação no colegiado, que também conta com a presença do deputado Sérgio Brito (PSD-BA) como titular. “O partido libera para votar de acordo com as suas consciências, com as suas convicções, com os elementos de prova e contraprova apresentados”, afirmou. De acordo com ele, uma manifestação poderia ser interpretada como uma interferência nos trabalhos.
Quanto ao impeachment, a expectativa é que Cunha tome uma decisão sobre o principal pedido — baseado em pareceres dos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaina Paschoal — ainda neste mês. Nos bastidores, aliados de Cunha acreditam que seria mais prudente decidir após a votação do parecer que determina a admissibilidade do processo no Conselho de Ética. Como os integrantes do colegiado votam o documento do relator, Cunha teria uma prévia do placar.