Escolha de substituto para o presidente afastado da Câmara dos Deputados divide maioria governista do interino Michel Temer
PAULO DE TARSO LYRA
JULIA CHAIB
A proximidade da cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no plenário da Câmara rachou a base de apoio ao governo e pode trazer dor de cabeça para o Palácio do Planalto. Dispostos a reverter o desgaste na imagem da casa, o chamado centrinho, formado por PSDB, DEM, PPS e PSB, abriu negociações de aliança com PT, PCdoB, PDT e Rede para lançar um candidato ao mandato tampão de substituto de Cunha. O chamado centrão, ligado ao presidente afastado da Casa, deve apoiar Rogério Rosso (DF). E o PMDB, partido de Temer, desliza independente e poderá ser o fiel da balança nessa disputa.
Desde que Temer assumiu interinamente o Planalto, em 12 de maio, são nítidas as divergências entre o centrão, mais alinhado a Cunha, e o centrinho. O primeiro grupo conseguiu emplacar o líder do governo, André Moura (PSC-SE). “Nós fomos lá para levar o nome do Moura. O ministro Geddel nos avisou que o Rodrigo Maia (DEM-RJ) também queria. Mostramos a ele que nós tínhamos mais votos e democracia é maioria”, lembrou um dos líderes presentes ao encontro, apostando na repetição do cenário.
O certo, por enquanto, é que a neutralidade pretendida pelo Planalto na disputa é impossível. Na sexta-feira, em conversa com o Correio, o ministro Geddel Vieira Lima afirmou que a única hipótese de uma intervenção do Executivo seria um candidato da base enfrentando um nome apoiado pela oposição. Não é o que pensam os aliados. “O Planalto terá que se meter nesta briga. É uma questão de sobrevivência. O presidente Temer sabe disso e não vai querer ver sua base de apoio rachada”, disse um líder governista.
Nome de respeito
Mas os aliados já estão divididos. “Precisamos de um nome que possa normalizar a situação da casa e recuperar o respeito do parlamento”, defendeu o líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM). Ex-líder do governo na Casa, o deputado José Guimarães (PT-CE) afirmou que estão adiantadas as conversas da antiga minoria com a atual minoriaparlamentar. “É consenso que Cunha ultrapassou todos os limites éticos e regimentais. Todos nós estamos trabalhando para reconstruir politicamente a Câmara”, declarou o petista. “Escolher um nome para essa transição não significa ser um candidato favorável ou contrário ao Planalto. Mas alguém para trazer normalidade”, justificou o líder da Rede, Alessandro Molon (RJ).
Aliado de Cunha, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) disse que só debaterá oficialmente a sucessão do peemedebista caso a cassação do deputado seja consumada. Mas pondera que é preciso observar qual nome seria melhor para o governo e elogia o deputado Rogério Rosso (PSD-DF), uma das apostas do Planalto para esse momento. “Temos que fazer o que é melhor para o governo Temer, estabelecer um pensamento nesse sentido. Ele (Rosso) é um excelente nome. Isso não quer dizer que estou declarando meu voto ou apoio”, disse.
Marun pondera, no entanto, que o PMDB pode buscar um nome dentro do próprio partido. “Temos de acertar um nome dentro da base. Não podemos buscar alianças com adversários. Fazer isso é reconhecer que é golpista, porque é disso que eles mais nos chamam”, avaliou, em relação à costura que está sendo feita por parte da base com a atual oposição.
Rosso agradece a lembrança, mas afirma que não é candidato neste momento. “O futuro presidente, além de ter um mandato curto, de pouco mais de três meses, não pode fazer movimentos bruscos. Ele precisa deixar a casa navegar, algo que não acontece neste momento”, afirmou.
O PSol não faz parte de nenhuma articulação. A depender de quem forem os postulantes, opartido deverá lançar candidatura própria. “O candidato tem que promover quatro elementos na Câmara: transparência absoluta, austeridade, democratização da pauta e valorização dos servidores para acabar com esse clima de terror criado por Cunha”, disse Chico Alencar (PSol-RJ).