Para aprovar projetos de interesse do governo Temer, aliados do Planalto se veem diante da dificuldade de unir as diversas legendas
» PAULO DE TARSO LYRA
O presidente interino, Michel Temer, deve dar entrevista na próxima segunda-feira, ao lado dos ministros mais próximos, para anunciar o encaminhamento ao Congresso do projeto que altera a meta fiscal e apresentar o rombo deixado pelo governo da presidente Dilma Rousseff. Ao lado de Temer, estarão o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles; do Planejamento, Romero Jucá; da Casa Civil, Eliseu Padilha; da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima.
O anúncio tem dois objetivos, ambos voltados para ao parlamento. Um pedido explícito para que, na terça-feira, deputados e senadores possam alterar, em sessão do Congresso Nacional, a meta fiscal, diante do déficit, que, segundo os últimos cálculos, já passaria dos R$ 150 bilhões. E mostrar que, por conta da administração petista, os parlamentares precisam se empenhar para aprovar outras medidas de ajuste que serão encaminhadas pelo Executivo Federal.
O Planalto sabe que, além do discurso, precisa empenhar-se em reunificar a própria base, que vive a primeira crise de relacionamento após a decisão do Planalto de escolher André Moura (PSC-SE) para o cargo de líder do governo na Câmara. O parlamentar, muito ligado ao presidente afastado da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), contou com o apoio do chamado Centrão, que, no cálculo dos adversários, inclui 216 deputados e, na estimativa do próprio Moura, passa ligeiramente dos 300.
Responsável pela articulação política do governo, o ministro Geddel Vieira Lima chamou Moura para uma conversa ontem no Planalto, para estancar a crise. “Não tem essa de Centrão, de Centrinho. Somos uma base só, unida. As pessoas estão ansiosas e esquecem que somos um governo com apenas seis dias úteis. As coisas estão se acomodando”, disse Geddel.
Moura também tentou desfazer esse mal-estar. Ao deixar o Planalto, procurou o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), para garantir que o chamado Centrão não formará um bloco parlamentar baseado nas normas da Casa, para não gerar atrito com os demais integrantes da base aliada. “Foi um gesto importante para dirimir resistências”, admitiu Imbassahy, ao Correio.
Grupos
Não existir formalmente enquanto bloco não significa dizer que as cisões tenham desaparecido. “O PSDB, por exemplo, precisa manter sua identidade. Não poderíamos nos furtar de dar sustentação ao atual governo, mas precisamos buscar partidos que comunguem os mesmos pensamentos conosco”, disse o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG).
Ele enxerga quatro grandes grupos políticos na Casa: o centrão, formado por 13 legendas que avalizaram o nome de Moura; o bloco de oposição PT-PCdoB-PDT e PSol; o grupo que une PSDB-DEM-PPS-PSB e, quem sabe, o PV; e o PMDB, que, segundo ele, deverá transitar livremente entre as agremiações que dão apoio ao Planalto. “Poderemos ter unidade de ação, mas, não necessariamente, unidade de ideias”, completou Pestana.
Algumas divergências já são sentidas. O PSDB, por exemplo, não vê como absurda a possibilidade de uma reforma da Pevidência que promova mudanças nos trabalhadores que ainda estão na ativa, alterando, por exemplo, a idade mínima para a aposentadoria. O DEM, legenda mais revoltada pela escolha de Moura — até porque viu escapar a chance de emplacar Rodrigo Maia (RJ) no posto — sugere, apenas, uma transição mais suave para quem esteja próximo da aposentadoria.
O centrão é radicalmente contra a proposta sugerida por Henrique Meirelles, que afirmou, em entrevista, que alterar regras da Previdência apenas de quem vai entrar no mercado não adianta. “Ele quer mexer em direitos adquiridos?”, espantou-se o líder do PSD na Casa, Rogério Rosso (DF). Presidente da Força Sindical e do Solidariedade, o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SP), classificou a proposta de Meirelles de “estapafúrdia”.
STF investiga Vital do Rêgo e Marco Maia
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki autorizou ontem a abertura de inquérito contra o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) e ex-presidente da CPI mista da Petrobras Vital do Rêgo e contra o deputado e ex-relator da comissão de inquérito Marco Maia (PT-RS). Os dois foram acusados por empreiteiros e pelo ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) de “blindarem” os executivos de serem convocados na CPI, em troca de dinheiro. Pelos mesmos fatos, o ex-senador Gim Argello (PTB-DF) é réu em ação penal na 13ª Vara Federal de Curitiba, porque não tem mais foro privilegiado no Supremo. O ministro também determinou que o pedido de investigação contra o ex-ministro Edinho Silva (Comunicação Social) seja enviado à Justiça Federal de Brasília. Ele foi acusado por Delcídio de “esquentar” doações eleitorais por meio de pagamento de fornecedores da campanha do ex-senador com ajuda do laboratório EMS.Divididos
Quem faz parte do Centrão
PP, PR, PSD, PRB, PTB, SD, PTN,
PSC, PHS, Pros, PEN, PSL
Total: 216 deputados Quem faz parte do Centrinho
PSDB, PSB, DEM, PPS e, talvez, o PV
Total: 119 deputados (125 com o PV) Bloco PMDB
Total: 67 deputados Bloco de oposição
PT-PDT-PCdoB-PSol
Total: 95 deputados Bloco independente
Rede, PTdoB, PMDB e PRP
Total: 9 deputados