Planalto espera que a Câmara aprove na semana que vem a PEC do teto de gastos, em segundo turno. Avaliação é de que a prisão de Cunha não interfere na relação com o Legislativo
» PAULO DE TARSO LYRA
O governo manterá a estratégia de mobilização para garantir o quórum e aprovar, na semana que vem, em segundo turno, a PEC do teto de gastos. No primeiro turno, o presidente Michel Temer ofereceu um jantar no Palácio da Alvorada, na véspera da votação, um domingo à noite. Agora, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), vai preparar um almoço, possivelmente na segunda, para assegurar a presença de deputados em Brasília.
Além disso, os líderes aliados foram orientados a ligar pessoalmente para a bancada, convocando para estar em Brasília. Farão também um pente-fino no aeroporto para controlar a hora da chegada dos voos. O planejamento já estava feito, uma vez que será a última semana antes do segundo turno das eleições municipais, e muitos deputados precisam estar presentes em suas bases eleitorais.
Mas a orientação foi reforçada, durante encontro na tarde de ontem no Palácio do Planalto, com a presença do ministro de Governo, Geddel Vieira Lima. O alerta veio com a prisão do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Nem em pensamento o Planalto quer passar a impressão que a derrocada do peemedebista abalará o governo.
“Vida que segue. A partir da segunda-feira, o Congresso volta a analisar as matérias que interessam ao Planalto e votaremos o segundo turno do teto de gastos”, garantiu um dos vice-líderes do governo na Câmara, Carlos Marun (PMDB-MS). O líder do PSD, Rogério Rosso (DF), não acredita em paralisia legislativa após a detenção de Cunha. “O Congresso está ciente do momento de dificuldades econômicas que o país atravessa e da nossa responsabilidade nesse processo”, assegurou.
Só que, reservadamente, a segurança dá lugar à apreensão. O receio do que Cunha poderá falar aos investigadores da Lava-Jato, em uma eventual delação premiada, tem condições de estremecer o centro do poder de Brasília. Especialmente porque, apostam interlocutores e adversários, as supostas baterias do ex-presidente da Casa devem voltar-se para o Executivo, não para o Congresso.
É voz corrente no Legislativo que pelo menos 100 parlamentares teriam sido eleitos em 2014 com a ajuda financeira de Cunha. Mas a avaliação é de que ele só poderia obter algum benefício de delação premiada caso “atirasse para cima”. Um dos principais alvos na linha de tiro seria o secretário do Programa de Parceria de Investimentos (PPI), Wellington Moreira Franco.
Agenda
Interlocutores de Cunha afirmam que o ex-presidente e agora detento em Curitiba prometeu que a “queda de Moreira viria antes que ele imaginasse”. Na véspera da renúncia à Presidência da Casa, em 7 de julho, o governo sofreu a primeira derrota na Câmara, com a rejeição ao pedido de urgência para a votação do projeto de renegociação da dívida dos estados.
Preocupado com o desgaste, o Planalto pressionou Cunha para que renunciasse, o que aceleraria a eleição de um novo presidente da Câmara. O peemedebista queria garantias de que o novo titular da cadeira postergaria o processo de cassação em plenário. Mas o governo acabou trabalhando — especialmente Moreira e o PMDB — pela eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que marcou para setembro a cassação de Cunha. A antipatia anterior que nutria contra Moreira Franco consolidou-se de vez na cabeça do ex-presidente da Câmara.
Para o governo, apesar do silêncio oficial, a situação é muito pouco cômoda. Qualquer coisa que possa turvar o ambiente político, neste momento, se torna perigoso. A agenda, sobretudo a econômica, é pesada, com a restrição de gastos públicos e uma reforma da Previdência no horizonte. “Parlamentares que se sentirem acuados por Cunha poderão buscar refúgio em garantias dadas pelo Planalto. Se isso fará com o que o “preço” do apoio aumente ou não, só o tempo dirá”, afirmou um cacique peemedebista.