Entrevista ROGÉRIO ROSSO
» JULIA CHAIB
» DENISE ROTHENBURG
Pré-candidato à presidência da Câmara, o líder do PSD, deputado Rogério Rosso (DF), defende a aprovação das medidas econômicas do governo no Congresso nesta semana. O parlamentar acredita que os termos de delação premiada da Odebrecht, divulgados na última sexta-feira,e que atingem em cheio a cúpula do Palácio do Planalto e do PMDB, não serão capazes de interferir no encaminhamento das medidas.Hoje,o plenário do Senado vota em segundo turno a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55, que define um teto para os gastos públicos por 20 anos. Amanhã, a Câmara decide se aceita a admissibilidade da PEC da Reforma da Previdência,que Rosso considera mais polêmica.
Um dos líderes do centrão, que reúne 13 partidos pequenos e médios, Rosso quer encontrar consenso no grupo em torno de um nome na disputa na Casa, embora admita que há dificuldades. Para ele, a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) não é viável e,para evitar uma judicialização do tema no Supremo Tribunal Federal, enviou uma consulta à Comissão de Constituição,Justiça e Cidadania da Câmara na noite de ontem.
Mesmo diante de uma enorme resistência do bloco na semana passada, Rosso afirma que, hoje, o nome do líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), para a sucessão de GeddelVieira Lima na Secretaria de Governo, já tem mais simpatia. O centrão havia interpretado a indicação como uma interferência do Planalto na disputa.
Quais são as apostas do presidente Temer para esta semana?
O presidente deixou muito claro que confia na independência e na atribuição constitucional de todos os Poderes e que confia, essencialmente, no Judiciário. Independentemente desse conjunto de delações da Odebrecht todos sabemos que virão outras ele está com foco no ajuste fiscal. Ele sabe que a economia precisa reagir e a reação se dará não só no aspecto maior como também em pequenas ações pontuais. É o que fará a partir de hoje (segunda), reunindo ministros da área econômica, e imaginamos que, esta semana, um pacote de medidas será anunciado.
Dá para contar com a aprovação dessas medidas no Congresso, principalmente, na Previdência?
Vamos separar. Primeiro, o segundo turno da PEC dos gastos no Senado, me parece que os senadores têm essa consciência, a maioria, desse novo conceito de despesas. O governo só vai gastar o que arrecadar. Isso é uma consciência independentemente do ambiente político. Na Câmara, a admissibilidade da Previdência precisa ser mais bem conversada com a própria base porque cada parlamentar traz a sua experiência. Nesses poucos dias em que a reforma foi encaminhada para a Câmara, as reações de vários segmentos da sociedade foram muito grandes. Ela mexe com a vida de todos nós. É um processo mais longo, demorado e difícil no que tange ao mérito. Acredito que será aprovada, mas é importante que o governo faça encontros o mais rápido possível com partidos da base porque alguns já manifestaram dificuldades, inclusive, de votar pela admissibilidade.
Há um movimento de debandada?
O presidente Michel continua com uma boa base na Câmara, suficiente para aprovar reformas. A economia real, de varejo, ela precisa ter ações importantes e urgentes governamentais para reativar a economia e gerar emprego.
O senhor é candidato?
Continuo pré-candidato. Apesar do meu apreço pessoal com o presidente Maia, entendo que existe uma barreira jurídica que não permite reeleição na mesma legislatura e teria alto risco, inclusive, de judicialização. O Brasil precisa de segurança jurídica, ainda mais nesses dois anos que sabemos que o papel da Câmara será primordial. Teremos nos próximos dias encontros do blocão para tentar ter o menor número de candidaturas. Eu só serei candidato fruto de um consenso mínimo para vencer. Não serei candidato por ser. Se tiver alguma sinalização do Planalto em prol de uma candidatura que não seja a nossa, sou o primeiro a retirar a minha para não confrontar o governo, que eu defendo.
O que o Temer lhe disse?
O presidente disse para mim e todos os líderes da base que ele não vai interferir, não pode interferir, enquanto houver dois ou mais candidatos da base. Ele sabe que isso gera um desconforto, questões difíceis de relacionamento. E o que ele não precisa é de uma base enfraquecida.
Nomear Imbassahy é interferir?
O presidente já deixou isso claro, mas que deixe claro para toda a base que está nomeando Imbassahy para todo o conjunto, não para fazer campanha preferencialmente para alguém. Não vejo dificuldade, até porque ele preenche as qualidades e requisitos para ser um grande articulador político.
“O presidente continua com uma boa base na Câmara, suficiente para aprovar reformas”