Correio Braziliense | Política: Governo novo, problema velho

Administração de Temer enfrenta no Congresso as mesmas dificuldades da presidente afastada, Dilma Rousseff. Nova base aliada aposta nas condições políticas do interino

» PAULO DE TARSO LYRA

Com pouco mais de uma semana no cargo, a gestão do presidente interino, Michel Temer, apesar de alguns nomes novos na administração federal e outros nem tanto, apresenta os mesmos diagnósticos econômicos e enfrentará problemas semelhantes na política. A equipe econômica, comanda por Henrique Meirelles, anunciou na sexta-feira um deficit fiscal de R$ 170,5 bilhões. Para cobrir o rombo, Meirelles já sinalizou com a volta da CPMF e defendeu uma reforma da Previdência que inclua até mesmo os trabalhadores da ativa. A base aliada rejeitou o imposto, e os sindicatos disseram não à Reforma Previdenciária. “Está difícil encontrar os caminhos para tirar o país do buraco”, reconheceu o presidente nacional do Solidariedade, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força(SP).

O parlamentar é um dos que rejeitaram a proposta de Meirelles de fazer uma reforma da Previdência sem discutir com as centrais, aumentando a idade mínima para 65 anos e unificando direitos de homens e mulheres. Antes mesmo da aprovação da suspensão da presidente Dilma Rousseff pelo Senado, o parlamentar, que é presidente da Força Sindical, já levara outras centrais sindicais ao Palácio do Jaburu para se encontrar com Temer. Por considerar o novo governo ilegítimo, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) recusou-se a participar do encontro.

Uma nova reunião ocorreu na última segunda-feira. A ausência da CUT não significou um discurso mais ameno dos representantes dos trabalhadores. Pelo contrário: de forma unânime, eles reafirmaram posição contrária à perda de direitos dos trabalhadores. Paulinho também defende a formação de câmaras setoriais para aproximar trabalhadores e empresários. “Como dificilmente promoveremos mudanças macroeconômicas, precisamos estimular os setores a encontrar saídas para a crise”, reconheceu Paulinho.

Líder do PSD na Câmara, Rogério Rosso (DF) reconhece as dificuldades vividas pelo governo de transição. Ele afirma que a saída a ser encontrada é um diálogo mais afinado entre o Planalto e o Congresso. Ele não vê dificuldades para Temer realizar essa tarefa, já que passou 24 anos na Câmara e, por três vezes, presidiu a Casa. “Ele está em seu hábitatv. E sabe que, no Congresso, podemos não ter tantos doutores em economia, mas temos diversos doutores em política”, afirmou.

Premissas

Na terça-feira, Temer almoçará na casa de Rosso ao lado dos demais líderes da base aliada. O pessedista, que presidiu a Comissão do Impeachment na Câmara, admite que boa parte dos diagnósticos atuais são semelhantes aos detectados na gestão da presidente Dilma Rousseff. “O problema não era encontrar os problemas. É que eles (o governo do PT) não tinham condições políticas de aprovar as medidas necessárias”, justificou Rosso.

Para o líder do DEM na Câmara, Pauderney Avelino (AM), a gestão de Dilma Rousseff não conseguia resolver os problemas porque partia de premissas erradas e não tinha força política para mudar a situação. “O atual governo precisa, primeiramente, fazer um ajuste rigoroso nas contas públicas. Se cortar na própria carne, conseguirá convencer o Congresso a cortar outras coisas”, disse o demista.

Pauderney afirma que, depois que esse enxugamento de gastos acontecer, Executivo e Legislativo poderão discutir a necessidade de um aumento de impostos. “Mas não a CPMF, que é um imposto regressivo, agressivo e que prejudica até as pessoas que sequer têm contas bancárias, pois impacta nos preços”, criticou o líder do DEM. Ele também defende uma profunda revisão nos programas sociais. “Tem que continuar cadastrado aqueles que precisam. Quem não precisa, tem que ser cortado”, acrescentou.

O líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA), rejeita a tese de que os diagnósticos são os mesmos, por enxergar diferenças no estilo de gestão atual e o do PSDB, em comparação aos anos petistas. “Eles receberam um governo arrumado de Fernando Henrique Cardoso e entregaram o país para nós praticamente quebrado.” A exemplo do demista, o tucano também defende uma expressiva redução dos gastos. “Essa redução das despesas não aconteceu. Mas isso acontecerá aos poucos, o governo atual ainda está se ambientando”, defendeu Imbassahy.

O novo líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), reconhece as dificuldades, mas completa que elas serão superadas pelo diálogo. “O próprio Temer demonstrou essa disposição para a conversa. Ele quer se reunir com a base aliada semanalmente, ou quinzenalmente, e todos os pontos serão negociados com os congressistas”, disse o líder. Ele nega que haja qualquer indisposição entre os congressistas e a equipe econômica. “A confiança na equipe do ministro Meirelles é integral”, garantiu.

“Eles receberam um governo arrumado de Fernando Henrique Cardoso e entregaram o país para nós praticamente quebrado” Antônio Imbassahy, líder do PSDB na Câmara

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