Em um domingo marcado por reuniões e negociações em Brasília, líderes partidários chegam a um acordo com o presidente interino da Câmara sobre a data da escolha do novo comandante da Casa
Denise Rothenburg
Depois de um dia dedicado a reuniões e negociações, os representantes do chamado Centrão conseguiram que o presidente em exercício da Câmara, Waldir Maranhão, aceitasse antecipar a eleição do seu sucessor quarta-feira, às 19h, um dia depois do que pretendia o grupo de partidos aliados do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Agora, os aliados de Cunha farão de tudo para evitar que o recurso contra o parlamentar seja analisado esta semana, na Comissão de Constituição e Justiça, de forma a dar ao futuro comandante da Casa poder de protelar a apreciação do processo em plenário.
O encontro dos parlamentares começou com um almoço na casa do deputado Rogério Rosso (PSD-DF). A ideia inicial era tirar dali uma candidatura única do grupo e arrumar a estratégia para forçar a eleição na terça-feira. O líder do governo, André Moura (PSC-CE), estava presente, assim como o do PTB, Jovair Arantes (GO); do PP, Aguinaldo Ribeiro (PB); do PR, Aelton Freitas (MG). Da Mesa Diretora, foram o primeiro-secretário, Beto Mansur (PRB-SP), e o segundo vice-presidente, Fernando Giacobo (PR-PR). Havia ainda representantes do PR, do PV e até do PSB, o deputado Hugo Leal (RJ). O líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), passou por lá mais tarde.
O grupo não conseguiu nem forçar a eleição para terça-feira, tampouco reduzir o número de candidatos. O petebista Jovair Arantes era um dos mais engajados na defesa da eleição amanhã. No início da conversa, em que Maranhão era execrado por todos, houve quem defendesse inclusive recursos à Justiça. A ideia foi descartada, porque, segundo relatos dos líderes, Beto Mansur alertou: “Vocês estão loucos? Quem está de plantão é o (Ricardo) Lewandowski (presidente do Supremo Tribunal Federal). E se ele suspende tudo e deixa a eleição para agosto? Maranhão fica mais um mês”. Diante da falta de instrumentos, os deputados começaram a negociar com o presidente em exercício, que aceitou, no máximo, quarta-feira à noite. Assim, a CCJ terá amanhã e toda a quarta para concluir a análise dos recursos de Eduardo Cunha, deixando a votação do parecer em plenário para agosto.
A parte relativa à retirada de candidaturas não se mostrou tão simples. Giacobo e Mansur foram diretos: vão concorrer e ponto. “Eu não vou retirar. Tenho cinco mandatos, trânsito na Casa, sou aliado do governo e a eleição é em dois turnos”, disse Mansur, segundo relato de três parlamentares presentes. O “cinco mandatos” soou a alguns como uma delicada alfinetada no anfitrião, deputado de primeiro mandato. Rosso, aliás, não revelou ali se vai disputar o cargo. Quando perguntado, disse que estava avaliando. Alguns, entretanto, lembraram a Rosso que ele é novo, tem pretensões políticas e já está carimbado como o candidato de Eduardo Cunha. Em outras palavras, disseram “sai daí rapidinho!”. Rosso, entretanto, não pretende deixar de concorrer e quer tirar a pecha de ser o nome do ex-presidente da Câmara na eleição.
Prós e contras
Mergulhado no trabalho de bastidor, Rogério Rosso ganhou projeção ao presidir a comissão do especial do impeachment, onde foi considerado justo e se revelou capaz de resolver conflitos. Tem ainda trânsito entre os líderes partidários do Centrão e é bem quisto entre os colegas e no Distrito Federal. “Rosso é equilibrado. Uma boa alternativa para presidir a Câmara”, afirma o governador Rodrigo Rollemberg (PSB), que ainda pretende ouvir o seu partido a respeito.
Rollemberg, entretanto, terá problemas em tentar emplacar Rosso entre os socialistas, porque o PSB tem três postulantes: Júlio Delgado, Heráclito Fortes e Hugo Leal. No partido, prevalece a ideia de que Rosso é um candidato de Eduardo Cunha. A trama chegou ao ponto de envolver inclusive o líder do governo, André Moura, apontado por alguns como alguém que trabalha para tirar Heráclito Fortes da disputa, por ser um pré-candidato que teria alguns votos no Centrão, prejudicando os planos de eleição de um representante do grupo. Os socialistas têm reunião hoje à noite, a partir das 19h, na sede do partido para definir qual dos três será o candidato.
O fato de ser visto como o preferido de Cunha tem sido um problema para Rosso. Durante o almoço, houve quem dissesse que Mansur chegou a sugerir a votação sobre o processo de cassação de Cunha para antes da eleição, de forma a tirar esse fantasma da sucessão. O Centrão não topou e ficou patente os planos de parte do grupo que defende a candidatura de Rosso, em tentar ligar a salvação do deputado peemedebista à sucessão na Câmara.
Com Rosso sem abrir oficialmente que é candidato, enquanto Mansur e Giacobo se jogam na campanha, o próximo passo agora dos “centristas” é tentar tirar de cena outros que possam atrapalhar os planos do grupo de eleger alguém ligados a eles. Quando Imbassahy chegou à casa de Rosso, por exemplo, foi logo ouvindo de alguns dos presentes que o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) não terá votos no grupo e “nem deveria ter do PSDB”, porque procurou o PT antes de garantir o apoio dos tucanos.
O problema, entretanto, é que a maioria do grupo presente à casa de Rosso joga hoje uma eleição em busca de apoios para presidir a Câmara em 2017. O PSDB planeja lançar candidato lá na frente e não apresentou ninguém para se preservar a fim de concorrer aomandato de dois anos. No PTB, Jovair Arantes, tido como o maior defensor de Eduardo Cunha hoje no Centrão e um dos padrinhos da pré-candidatura de Rogério Rosso, também trabalha de olho no futuro. “O Centrão precisa vencer agora, para, em 2017, emplacar o Jovair na Presidência da Casa. Ele é candidato”, conta o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP). Rosso, entretanto, nega que tenha candidato para fevereiro do ano que vem: “Qualquer deputado da base está apto”, diz ele, por mensagem de texto ao Correio.
Enquanto o PSDB e o PTB se retraem agora para se lançar no ano que vem, o PMDB de Michel Temer também se fecha oficialmente. Com três candidatos registrados para concorrer agora — Fábio Ramalho (MG), Marcelo Castro (PI), Sérgio Souza (PR) — e os movimentos do Centrão e do DEM, o partido não anunciará apoio a candidato.
O primeiro movimento do dia, entretanto, depois da reunião de avaliação do Planalto, será a da Mesa Diretora, onde a ideia é garantir que Maranhão, mais uma vez não recuará na decisão de fazer a eleição nesta quarta-feira. Ainda no Paraná, o quarto secretário, Alex Canziani, não esconde essa preocupação: “Quem garante que, na quinta-feira, o Waldir Maranhão não usará seu poder como presidente em exercício e anunciar o cancelamento da eleição para agosto?”. A desconfiança, nessa disputa, é geral e em vários campos.
“Rosso é equilibrado. Uma boa alternativa para presidir a Câmara” Rodrigo Rollemberg (PSB), governador do Distrito Federal