Parlamentares do governo e da oposição avaliam declarações de Temer sobre a economia e a votação do impeachment no Senado em agosto
PAULO DE TARSO LYRA
A mudança no humor nacional, com um Congresso mais ágil e capaz de votar medidas essenciais para o país e a retomada da confiança dos investidores e dos brasileiros em relação ao futuro, pontos abordados pelo presidente em exercício Michel Temer durante entrevista aos cinco principais jornais brasileiros, divide as opiniões do Congresso. “Não é só a presença dele que altera o panorama. A ausência do PT e da presidente Dilma também reverte as expectativas negativas provocadas pela gestão anterior”, defendeu o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA).
Para o líder do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), o bom humor do Congresso decorre de dois fatores, que independem diretamente de Temer: o agrupamento político que sustentou a candidatura presidencial do senador Aécio Neves (PSDB-MG) em 2014 e o arranjo partidário montado pelo presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para viabilizar o impeachment. “Nada disso é fruto do esforço de Temer. Ele está surfando em uma maioria congressual que ele não montou”, afirmou o petista paraense. Já o líder do PSDna Câmara, Rogério Rosso (DF), classifica Temer como um presidente parlamentarista. “Ele tem habilidade e paciência para conversar conosco”, reconheceu.
Aliados do Planalto afirmam que a mera mudança de governo, ainda que recente — a gestão de Temer tem apenas um mês e meio –, foi capaz de influenciar o mercado. “O fluxo de investimentos externos está sendo, aos poucos, retomado. A inflação vem dando sinais de que está refluindo. Tirando a notícia de hoje (ontem) mostrando a saída do Reino Unido da União Europeia, todas as informações econômicas das últimas semanas são positivas”, completou Rosso.
Para os petistas, o país vive uma natural reversão de expectativas quanto à economia. Pelo princípio do “W” da teoria econômica, após uma depressão sempre ocorre uma retomada da atividade produtiva. Eles lembram que o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa já afirmava que isso ocorreria ainda este ano. “Os números positivos que estão sendo colhidos agora decorrem das medidas econômicas tomadas pela presidente Dilma”, afirmou o vice-líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP).
“Batalha”
Os petistas também ficaram incomodados com as afirmações do presidente em exercício sobre a votação do impeachment de Dilma. “Nossa batalha é para que Dilma retorne ao poder por ter sido legitimamente eleita. Nosso lema é o ‘Fora Temer’, pois acreditamos que o poder tem de ser exercido por aqueles que tiveram o apoio democrático da população”, declarou Teixeira. Durante a entrevista de ontem, Temer disse que a defesa feita pela presidente afastada de que um novo pleito seja convocado não a favorece na luta contra o afastamento definitivo.
“O que a presidente Dilma defende, claramente, é a convocação de um plebiscito para que a população se posicione sobre o assunto”, disse Paulo Rocha. Para o petista paraense, o presidente em exercício, ao refutar a tese de novas eleições, está, na verdade, demonstrando a própria insegurança. “Ele sabe que alguns senadores também defendem esta tese. Temer está receoso de que eles votem contra o impeachment caso seja possível a realização de um novo pleito”, completou Rocha.
Temer também sugeriu que a base aliada na Câmara encontre um nome de consenso para disputar a Presidência da Casa, caso se confirme a cassação do mandato de Eduardo Cunha. “É o mais recomendável, embora saibamos que há uma infinidade de bons candidatos entre os partidos que apoiam o Planalto. No momento certo, eu espero que consigamos essa convergência”, defendeu Antonio Imbassahy.
“Não é só a presença dele que altera o panorama. A ausência do PT e de Dilma também reverte as expectativas negativas” Antonio Imbassahy (BA), líder do PSDB na Câmara
“Nada disso é fruto do esforço de Michel Temer. Ele está surfando em uma maioria congressual que ele não montou” Paulo Rocha (PA), líder do PT no Senado