Correio Braziliense | Política: A dificuldade em achar o candidato “ideal”

JOÃO VALADARES

PAULO DE TARSO LYRA

O sonho do presidente em exercício, Michel Temer, de ter um nome de consenso em torno do governo para suceder o deputado Eduardo Cunha e, assim, evitar um racha na base de sustentação, está bem distante. O episódio ocorrido ontem durante reunião de líderes da Casa, com o abandono dos parlamentares do bloco formado pelo chamado Centrinho (PSBD-DEM-PPS-PSB), evidenciou que é praticamente impossível a unidade para apoiar uma candidatura consensual.

Ontem, logo após anúncio da renúncia de Cunha, um festival de nomes para sucedê-lo começou a ser especulado. Há pelo menos 16 deputados cotados para disputar a Presidência da Câmara. Deste total, pelo menos 10 são tidos como da base governista. O plano inicial do governo de buscar unidade em torno do nome do líder do PSD, Rogério Rosso, se esfacelou. Carimbado como aliado de Cunha, o Centrinho minou sua candidatura. Nos bastidores, Rosso alimentava o desejo de ser o presidente tampão. Ontem à noite, ao perceber que a base não chegaria a um consenso, comunicou que seu nome não estava posto na disputa. “Não sou candidato. Entendo que precisamos procurar o maior consenso possível. Não serei o 21º candidato. O ideal é buscar o consenso na base, mas acho muito difícil.”

O nome que surgiu com muita força ontem foi o do ex-líder do DEM, Rodrigo Maia. A nova oposição, formada principalmente por PT e PCdoB, poderia, inclusive, apoiá-lo.Parlamentares petistas comentaram reservadamente que, dependendo do entendimento, poderiam sim defender um nome do DEM, partido que fez oposição ferrenha ao governo da presidente afastada, Dilma Rousseff. O deputado José Carlos Aleluia também colocou seu nome à disposição. Ele, inclusive, já liga para colegas pedindo votos.

Outra possibilidade ventilada ontem é que, após divisão do Centrão e do Centrinho, o PMDB lance um nome e tente puxar o DEM, PSDB, PPS e PSB para o seu lado. Neste caso, a estratégia é atrelar o Centrão a Cunha, enfraquecido politicamente diante de tantas acusações de corrupção. No entanto, o Planalto avalia que não é uma jogada tão simples assim. O governo sabe que para aprovar matérias consideradas prioritárias precisa do apoio deste bloco. Na quarta-feira, o Centrão mostrou sua força ao derrotar o governo na questão do requerimento de urgência para renegociação das dívidas dos estados. Os parlamentaresreclamaram da demora para liberação de emendas e nomeação de cargos nas unidades da Federação.

Quem também surge com força no PMDB é o do presidente da CCJ, deputado Osmar Serraglio. Outro integrante da sigla que entrou na disputa é Sérgio Souza. O líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), repetiu o discurso oficial de que o Planalto não vai interferir diretamente na eleição da Câmara, marcada para ocorrer na próxima terça-feira. “O governo não vai interferir para influenciar candidatura de A ou B. Nós entendemos que a base poderia ter candidatura única, mas, se isso não for possível, vamos respeitar todos os nomes postos na disputa”, comentou.

A eleição para sucessão de Cunha se transformou num pesadelo para o governo Temer. Seus principais integrantes sempre criticam a presidente Dilma por ela não conseguir formar uma unidade sólida em torno das suas ações por não ter diálogo com o Congresso. Nos bastidores, é evidente que o governo vai tentar até o último momento costurar um nome de consenso. Alguns deputados da base cancelaram a ida aos seus estados. O fim de semana promete ser de reuniões para chegar a uma solução.

Segmentos

Mesmo diante das dificuldades, Temer revelou a pessoas próximas que ainda acredita entre o chamado Centrão, que congrega PP, PSD, PR e PTB e mais oito siglas, PMDB e a antiga oposição, formada por PSDB, PPS, PSB e DEM, consiga emplacar o nome. Ontem, o deputado Julio Delgado, inimigo declarado de Eduardo Cunha, voltou a dizer que não tem consenso em torno de um nome ligado ao peemedebista. Ele insistiu que a ideia do governo era emplacar Rogério Rosso. Na semana passada, ele já tinha feito o alerta que o acordo entre Centrão e Centrinho era bastante difícil. “O PSB está fora dessa conversa. Não tem acordo. Não podemos eleger um preposto de Cunha. Não tem conversa nesses termos. Não tem negociação assim. É repugnante”, refutou o deputado.

Ontem, questionado se era candidato, disse apenas que seu nome é lembrado por vários segmentos. O socialista lembra que o grupo formado pela antiga e nova oposição está conversando para tentar furar o Centrão. “A prudência aponta para nós escolhermos um nome que aumente a autoestima da Câmara. Esse nome, evidentemente, não pode ter a mínima ligação com Eduardo Cunha”, pondera Delgado.

257 Quantidade de votos necessários para eleger o presidente da Câmara em primeiro turno

Análise da notícia

A turma dos espertalhões

» Leonardo Cavalcanti Um dos maiores problemas de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi se achar mais esperto do que todos os parlamentares da Casa. Quando as denúncias da Lava-Jato tornaram a presença dele no Congresso insustentável, o peemedebista perdeu força até mesmo entre aliados. Mas, antes da saída, conseguiu negociar tempo com um grupo restante de correligionários. Os amigos dele agora atuam de maneira cínica, tentando relacionar a urgência da eleição do novo presidente da Câmara à governabilidade.

A antecipação da votação do novo comandante da Câmara para a terça é uma tentativa velada de segurar o processo de cassação de Cunha na Comissão de Constituição e Justiça, e até mesmo levá-lo de volta ao Conselho de Ética. A manobra faria que a votação do presidente combinasse com a sessão da CCJ, inviabilizando os trabalhos naquele colegiado. Agora, quem se acha mais esperto do que todos é o grupo de Cunha. Tais políticosdeveriam se mirar no mau exemplo do peemedebista se quiserem ir mais longe.

Os mais cotados Confira os nomes de candidatos ao cargo de presidente da Câmara PR

» Fernando Lucio Giacobo, 45 anos, segundo vice-presidente e tem presidido as sessões na ausência do Maranhão

» Milton Monti, 55 anos, ligado à bancada dos produtores agrícolas PP

» Esperidião Amin, 66 anos, vice-líder do partido na Câmara PMDB

» Osmar Serraglio, 66 anos, presidente da Comissão de Constituição e Justiça

» Sérgio Souza, 45 anos, primeiro suplente na chapa da senadora Gleisi Hoffman, assumiu omandato quando ela integrava o ministério da presidente Dilma. Elegeu-se deputado federal em 2014 pela primeira vez

PRB » Beto Mansur, 65 anos, primeiro-secretário da Mesa

» Fausto Pinato, 39 anos, foi o primeiro relator do processo contra Cunha no Conselho de Ética. Acabou sendo substituído pelo deputado Marcos Rogério

DEM » Rodrigo Maia, 46 anos, filho do ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, era cotado para ser líder do governo interino na Câmara

» José Carlos Aleluia, 68 anos

PSDB » Antônio Imbassahy, 68 anos, líder do PSDB na Câmara, foi uma das principais vozes contra o governo Dilma na Casa

PSB » Julio Delgado, 49 anos, disputou a última eleição da Câmara com Cunha e Arlindo Chinaglia

» Heráclito Fortes, 65 anos, foi senador entre 2003 e 2011. Voltou à Câmara em 2015 Solidariedade

» Carlos Mannato, 58 anos, corregedor parlamentar PTB

» Cristiane Brasil, 42 anos, filha do ex-deputado Roberto Jefferson, o presidente nacional do PTB

PSD » Rogério Rosso, 47 anos, líder do partido na Casa

PSol » Chico Alencar, 66 anos, ex-líder da sigla na Câmara Como será a eleição

» A sessão de votação para escolha do novo presidente da Câmara terá início às 14h da terça-feira com discursos e apresentação dos candidatos

» A previsão é de que a votação só comece a partir das 19h

» No caso de nenhum candidato obtiver metade mais um dos votos, ocorrerá segundo turno com os dois mais votados no mesmo dia

» Os postulantes têm prazo até as 12h de terça-feira para apresentar oficialmente as candidaturas

» A votação será feita em cédulas

» Serão instaladas cabines de votação no plenário

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