Presidente afastado da Câmara aciona tropa de choque para estar em Brasília na segunda à noite e discutir pronunciamento de terça
NATÁLIA LAMBERT
NAIRA TRINDADE
DENISE ROTHENBURG
Após sofrer uma grande derrota no Conselho de Ética, que aprovou o andamento do pedido de cassação do mandato, e diante da pressão dos próprios aliados para renunciar à presidência da Câmara, o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ameaça romper o silêncio. De acordo com líderes partidários, Cunha está convocando parlamentes próximos para estarem em Brasília na segunda-feira à noite para acompanharem um pronunciamento que ele fará na terça-feira pela manhã, no Hotel Nacional, às 11h. O assunto ninguém confirma, mas a principal especulação seria a possibilidade de renúncia do cargo. Oficialmente, no entanto, a assessoria de Cunha diz que desconhece o encontro.
Mesmo antes do resultado no Conselho de Ética, aliados do presidente afastado já falavam sobre uma renúncia à Presidência da Câmara como solução. Ferrenho defensor de Cunha na comissão, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) afirmou que conversaria com o colega de partido pessoalmente sobre a possibilidade, mas respeitando o fato de a decisão ser de “foro íntimo”. Outro voto garantido contra a cassação, o deputado Sérgio Moraes (PTB-RS) também disse que desejaria que o colega não retornasse mais à Presidência, simplesmente, por “não dar mais”.
Deputados que fazem oposição ao presidente afastado acreditam que a convocação de Eduardo Cunha está sendo feita para testar o poder de influência que ele ainda tem na Casa e, com isso, negociar um acordo para se livrar da cassação em plenário. “Ele está medindo o tamanho da base aliada porque está vendo que o cerco está se fechando e a renúncia talvez seja a única saída”, comentou Julio Delgado (PSB-MG).
Reiteradas vezes o presidente afastado da Câmara afirmou nos últimos meses que “não existe a possibilidade de renunciar”. Procurado, Cunha não se manifestou e, por meio da assessoria de imprensa, disse que confirmará se fará o pronunciamento somente na segunda-feira. A hipótese mais provável é que ele convoque a imprensa para mostrar seu posicionamento sobre a cassação a fim de evitar informações consideradas “desencontradas” no processo.
CCJ
A defesa de Cunha tem até quinta-feira para apresentar recurso à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) sobre o parecer que pede a cassação do mandato no Conselho de Ética. O advogado do peemedebista já adiantou que a linha do recurso apontará os “erros” cometidos pelo presidente do colegiado, José Carlos Araújo (PR-BA), inclusive, sobre o fato de a votação ter sido nominal.
Paralelamente ao recurso, tramita na CCJ uma consulta feita pelo presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), que pode definir o rito da cassação no plenário. O parecer da consulta, elaborado pelo aliado de Cunha, Arthur Lira (PP-AL), tem previsão de ser votado na segunda-feira, entretanto, Maranhão (PP-MA) disse a adversários do deputado que pretende retirar a consulta da CCJ, já que, segundo ele, o questionamento teria perdido o sentido depois que a defesa afirmou que recorrerá ao colegiado.
Enquanto o processo se arrasta na Câmara, já despontam nomes cotados para substituir Cunha. Alguns, inclusive, fazem campanha pessoalmente, como é o caso do deputado Carlos Manato (SD-ES). Durante a semana, parlamentares relataram ter sido abordados por ele. Outro nome em jogo é o de Fernando Lucio Giacobo (PR-PR), que tem presidido as sessões no lugar de Maranhão.
Caso a cassação avance, o substituto fica no cargo até fevereiro do ano que vem, quando haverá novas eleições. Nomes cogitados anteriormente — como o do líder do PSD, Rogério Rosso (DF), e do líder do PRB, Jovair Arantes (GO), relator e presidente da comissão do impeachment, respectivamente — perdem força. Ambos têm interesse em assumir a presidência a partir do próximo ano, de forma efetiva.
Corrêa aponta para o PCdoB
A divulgação de mais um trecho da delação premiada do ex-deputado federal e ex-presidente do PP Pedro Corrêa (PE) lança suspeitas sobre o PCdoB e um dos seus principais líderes, o ex-ministro Aldo Rebelo (SP). De acordo com o relato, o partido dividiria com PT e PP propina de obras do Programa Minha Casa Minha Vida. As informações, segundo reportagem da revista Veja, estão no anexo 27 da delação, que já foi concluída e depende de homologação do ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Corrêa afirma que, no segundo mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, o PCdoB comandou a Diretoria de Produção Habitacional do Ministério das Cidades. O setor era chefiado por Daniel Nolasco, filiado à legenda e supostamente indicado por Aldo. Em nota, Aldo rebateu Pedro Corrêa e disse que as informações são falsas. O PCdoB não se manifestou.