HÉDIO FERREIRA JÚNIOR
ESPECIAL PARA O CORREIO
Aliados da presidente Dilma Rousseff protocolaram ontem na Câmara dos Deputados o pedido de criação de uma frente parlamentar mista em defesa da democracia. O documento trazia assinaturas de 186 deputados federais contrários ao impeachment. O número ultrapassaria com folga os 171 votos que o governo precisa para enterrar o processo de impedimento de Dilma, servindo como base de referência para a votação deste domingo. A lista, porém, apresenta um problema: nomes que lá estão já debandaram da base aliada e hoje declaram abertamente a destituição do PT do poder.
A articulação para captar as assinaturas teria ficado a cargo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em Brasília há quase um mês, ele vem tendo uma série de conversas em um quarto do hotel Golden Tulip, próximo ao Palácio da Alvorada. Ainda nesse período, Lula teria garantido o apoio de parlamentares do PP e do PSD, partidos que esta semana anunciaram apoio quase maciço ao impeachment. Além das assinaturas dos 186 deputados, há o registro de 30 senadores.
Por lá estão nomes como o de Leonardo Quintão (PMDB-MG), um dos articuladores do grupo pró-impeachment na bancada peemedebista, e de parlamentares do DEM e do PSDB, principais defensores da saída de Dilma do Planalto. Há quem, inclusive, negue ter assinado o apoio a Dilma, como o delegado Éder Mauro (PSD-PA), outro da bancada pró-impeachment na Câmara. O tucano Domingos Sávio (MG) engrossou o tom no plenário e reclamou do ato que seria em prol da democracia ser transformado em um manifesto contra o impeachment. “Trata-se de uma atitude antiética, covarde e desesperada”, reclamou.
Agenda
A presidente nacional do PCdoB, deputada Luciana Santos (PE), disse que a frente tem o objetivo de sinalizar o debate do significado do processo de impeachment e que não poderia ser tratado como uma ação meramente política, sem apontar um verdadeiro crime de responsabilidade. Na semana passada, ela esteve com Lula no hotel. “Estamos assistindo a forças políticas querendo impor uma agenda retrógrada para o país, retirando direitos e conquistas, ameaçando o patrimônio brasileiro. É por isso que, num momento como esse, estamos levantando a necessidade de defesa da democracia”, justificou.
Apesar da saída de parlamentares da base, as assinaturas foram mantidas. Lula teria insistido no ato liderado pelo PCdoB, numa estratégia para mostrar que, apesar das dificuldades, a batalha para vencer o impeachment ainda não estaria perdida. No texto de criação da “Frente Parlamentar Mista em Defesa da Democracia”, aparece a justificativa de que a legitimidade do voto tem sido posta em xeque e que o Congresso tem o dever de zelar pela democracia. A intenção de tornar público o documento e protocolá-lo é forçar um comprometimento do voto daqueles que estão na base e poderiam, a qualquer movimento, se debandar para o lado de quem quer o impeachment.