Correio Braziliense | Nas Entrelinhas

Cunha e a realpolitik

Uma das maiores surpresas da nova ordem política brasileira, até aqui, se deu na eleição para a Presidência da Câmara dos Deputados. Mesmo com o Planalto apoiando um candidato do centrão, Rogério Rosso (PSD-DF), ungido pelo antecessor Eduardo Cunha (PMDB-RJ), uma aliança insólita entre a antiga oposição, formada por DEM e PSDB, com o PT, levou Rodrigo Maia (DEM-RJ) ao comando da Casa. Um dos principais entusiastas do impeachment de Dilma Rousseff no parlamento, o deputado recebeu o apoio do partido da presidente afastada, com a desculpa de que votar em Rosso seria eleger um políticopróximo ao peemedebista.

Na teoria, a aliança para a eleição na Câmara é o mais próximo da aplicação da chamada realpolitik de que se tem notícia na política brasileira dos anos mais recentes. Termo cunhado do alemão, ele se refere à política guiada não por princípios ideológicos, mas por questões de ordem prática. Ocorre que, ao agendar a sessão que votará o processo de cassação para uma insólita segunda-feira de setembro, em pleno período eleitoral, Maia dá indícios de que, se não é exatamente um aliado de Eduardo Cunha, também está longe de ser um adversário do peemedebista. Não chega a ser uma surpresa. Em novembro do ano passado, menos de um mês depois da representação contra o então presidente ter sido apresentada no Conselho de Ética, o demista declarou apoio ao colega de bancada fluminense contra a cassação.

Se havia uma data favorável ao parlamentar fluminense era exatamente 12 de setembro. Na reta final das eleições municipais, parlamentares que se sentiriam desconfortáveis com seus eleitores ao absolver Cunha, conseguiram a desculpa perfeita para se abster da votação. Com um quórum baixo, Maia pode, inclusive, adiar a sessão. Se a demora em julgar o peemedebista chegar a 28 de outubro, a Câmara completará um ano de chicana legislativa envolvendo o mandato do parlamentar. Os deputados devem estar tentando bater algum outro recorde. O de processo de cassação mais longo da história, já foi batido.

Segundo Maia, o dia foi escolhido para ocorrer depois da votação do impeachment de Dilma Rousseff, julgamento que nem sequer ocorrerá na Câmara, mas no Senado. O argumento é de que Cunha, caso seja cassado, poderia prejudicar o governo em uma eventual delação premiada. “Tudo é legítimo. A oposição quer votar amanhã, como exemplo. A base do governo que votar depois do impeachment. Do ponto de vista político, tudo é possível”, despistou Maia, na semana passada. Pode até ser, mas tudo indica que a base governista quer mesmo é jogar uma boia para salvar o peemedebista do naufrágio.

Eleições municipais

O Brasil tem 5,5 mil municípios, mas em nenhum outro as eleições para prefeito serão mais decisivas para dar a dimensão da nova divisão de forças na política brasileira do que em São Paulo. Não apenas por ser a maior metrópole do país, a queda de braço entre PMDB, PSDB e PT pelo comando da capital paulista refletirá decisivamente para a corrida pelo Planalto em 2018. Praticamente todos os presidenciáveis, à exceção de Aécio Neves, patrocinam candidatos e testarão seu prestígio no pleito.

A disputa envolve a disputa interna tucana pela primazia de ser o nome paulista da legenda à Presidência. Ao passo em que o governador Geraldo Alckmin conseguiu empurrar João Dória como nome do PSDB ao Palácio do Anhangabaú, José Serra viu o aliado Andrea Matarazzo pular no barco do PSD, de Gilberto Kassab — vice do ministro das Relações Exteriores na prefeitura, em 2004.

Há ainda a disputa entre o atual prefeito, Fernando Haddad (PT), e a neopeemedebista Marta Suplicy. As candidaturas testarão as influências de Luiz Inácio Lula da Silva e Michel Temer, respectivamente, no eleitorado paulistano. Em meio aos peso-pesados, no entanto, quem lidera a corrida é Celso Russomanno (PRB), integrante do bloco formado na Câmara denominado centrão. Pelo peso dos candidatos e de seus respectivos padrinhos, os 45 dias de campanha em São Paulo prometem.

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