Por JOSÉ CARLOS ARAÚJO*
Ao ler uma entrevista do governador da Bahia, Jaques Wagner, no Correio Brasiliense (Wagner projeta Eduardo para 2018), há alguns dias atrás, deparei-me com um conceito, um pensamento que, se não me surpreendeu visto que dele, mesmo sem conhecimento prévio, já compartilhava, suscitou algumas observações e me obrigou a trazer o processo eleitoral de 2018 traçado por Wagner para um cenário mais próximo: 2014, na Bahia. Wagner dizia:
“A candidatura de Dilma à reeleição é natural, porque ela tem direito a concorrer a mais quatro anos. Mas, para 2018, o PT terá que refletir. Será que está na hora de desfazer a tese de que nunca abre mão da cabeça da chapa?” (*)
O pensamento do governador Jaques Wagner, lança uma visão lúcida e profundamente crítica sobre o processo sucessório nos próximos anos. Mostra também um desejo de sacudir, de quebrar o pensamento arraigado de que o seu partido, o PT, deve ser hegemônico, nunca abrindo espaços, nunca permitindo novos jogadores no tabuleiro.
Ao analisar o quadro que se delineia para 2014, o chefe do executivo baiano, interlocutor privilegiado de Lula e de Dilma, acerta em cheio no alvo. Perspicaz, aponta também o calcanhar de Aquiles do PT que vem a ser o mesmo do PSDB: o desejo ferrenho de ser hegemônico, único, que acabou por desgastá-lo levando-o à derrota nas urnas. Wagner conclama o PT a se repensar. E em boa hora.
Na Bahia, esta reflexão do governador também se encaixa como uma luva: apesar de ter assegurado o maior número de prefeituras nesta eleições, o PT acabou perdendo espaço na Capital e em Feira de Santana, a segunda maior cidade do estado. Para 2014, o horizonte, se não é assim tão sombrio, pode vir a sê-lo. E é aí onde entra toda a lucidez deste articulador. Na sequência do seu pensamento inicial, postado acima, Wagner diz: “Melhor abrir para alguém de casa do que pela urna”. Tem razão.
Vice-governador e secretário estadual de Infraestrutura, Otto Alencar pode ser a carta na manga de Wagner. Presidente do PSD, que ao lado do PT, detém o maior número de prefeitos eleitos e reeleitos no estado e é a segunda maior bancada na Assembleia Legislativa, Otto tem um perfil que se enquadra bem na definição de Wagner e tem luz própria. No entanto, jamais se insinuará, jamais se colocará candidato sem o aval de Wagner. O DNA de lealdade de Otto Alencar se sobrepõe a qualquer outra coisa. Seria o melhor nome, o melhor quadro fora do PT, para sacudir o PT, para mudar o paradigma PT/PSDB enunciado por Wagner, mas só se tornará isto com o beneplácito do próprio governador.
Do pensamento exposto por Wagner na entrevista concedida ao jornal brasiliense, traduzimos – e esperamos que outros assim o façam – que caiu a ficha. Fez-se a sensatez. Que esta sensatez se espalhe. Para que, como diz o próprio Wagner, o PT não venha a sofrer o mesmo desgaste sofrido pelo PSDB que, por jamais ter admitido ceder a cabeça de chapa, perdeu, para o PT, as três últimas eleições.
A argumentação do governador da Bahia foi abrangente, centrou-se mais no plano nacional. No entanto, aplica-se, e como, no cenário local. O PSD, de Otto Alencar, é ‘alguém da casa’ e, mais do que isso, é uma força a se considerar: elegeu 71 prefeitos, tem a segunda maior bancada na Assembleia e só tende a crescer. Wagner se referiu a 2018. Podia estar falando de 2014. Falava de Brasília, podia estar falando da Bahia.
*JOSÉ CARLOS ARAÚJO é Deputado Federal, Presidente do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e Secretário Geral do PSD na Bahia