Jornal GGN – A força responsável pela condução do impeachment da presidente Dilma Rousseff está ganhando força, principalmente após a saída de vários partidos de sua base de coalizão nos últimos dias, e a votação crucial para encaminhar o caso para o Senado será realizada neste domingo. Contudo, alguns dos principais porta-vozes do processo enfrentam graves acusações de corrupção, fraude eleitoral e abusos de direitos humanos, escancarando assim um debate nacional sobre a hipocrisia dos líderes do Brasil. A afirmação consta de artigo publicado no jornal norte-americano The New York Times, que cita inicialmente o ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf, que se disse a favor do impeachment e “contra toda a negociata duvidosa que este governo faz”, mas enfrenta acusações nos Estados Unidos de ter roubado mais de US$ 11,6 milhões em esquemas de propina. “Dilma pode ter cavado sua própria sepultura por não entregar o que prometeu, mas ela integra uma esfera política manchada com excrementos de cima para baixo”, disse Mario Sergio Conti, colunista do jornal Folha de São Paulo.
“Ela não roubou, mas uma gangue de ladrões está julgando-a”. Segundo a publicação norte-americana, Dilma encontra-se com um Brasil “profundamente ressentido”, tendo presidido durante a pior crise econômica em décadas, em meio a um enorme escândalo de corrupção envolvendo a Petrobras e a queda de milhões de brasileiros da classe média para a pobreza. No caso do impeachment, ela não enfrenta acusações de corrupção, mas a acusação de usar dinheiro de bancos públicos para cobrir lacunas de orçamento, o que compromete a contabilidade econômica do país. “Dilma, então, é uma raridade entre as principais figuras políticas do Brasil: ela não foi acusada de roubar para si mesma”, diz o The New York Times, listando a partir daí o envolvimento de alguns dos principais nomes do processo. Ao todo, 60% dos 594 membros do Congresso do Brasil enfrentar acusações graves, como suborno, fraude eleitoral, o desmatamento ilegal, sequestro e homicídio, de acordo com levantamento do grupo Transparência Brasil Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara que está conduzindo o processo de impeachment, vai a julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal), sob a acusação de obter R$ 40 milhões em subornos.
Ele também é acusado de lavagem de dinheiro através de uma mega igreja evangélica. O vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), que é esperado para assumir caso Dilma seja forçada a se afastar, foi acusado de envolvimento em um esquema de compra ilegal de etanol. Renan Calheiros (PMDB-PA), líder do Senado que também está na cadeia de sucessão presidencial, é acusado de receber suborno no escândalo da Petrobras, além de acusações de evasão fiscal e de permitir que um lobista pagasse pensão alimentícia para uma filha de um caso extraconjugal. Os oponentes de Dilma no Congresso incluem Éder Mauro (PSD-PA), que está enfrentando acusações de tortura e extorsão durante sua atuação como policial em Belém, uma cidade conhecida pelo seu grande volume de crimes. Outro congressista que apoia o impeachment é Beto Mansur (PRB-SP), acusado de manter 46 trabalhadores em suas fazendas de soja no Estado de Goiás “em condições tão deploráveis ??que os investigadores dizem que os trabalhadores foram tratados como escravos modernos”, pontua o jornal norte-americano.
A questão acabou sendo utilizada como parte da estratégia presidencial, sob o argumento de como a condução do processo de impeachment pode ser efetuada por alguém que vai a julgamento por ser acusado de corrupção? Na quinta-feira, José Eduardo Cardozo, o advogado-geral, disse que seu escritório tinha apelado ao Supremo Tribunal Federal em uma tentativa de bloquear o processo de impeachment. Ele disse que o esforço para tirar Rousseff tornou-se tão vasto que era “um verdadeiro processo kafkiano em que o réu não pode descobrir com certeza de ou por quê ela está sendo acusada”. Em uma sessão que foi passado meia-noite e nas primeiras horas da sexta-feira, a maioria dos juízes no alto tribunal rejeitou o pedido do governo Dilma para anular a votação do impeachment deste fim de semana. “Ninguém pode negar que Dilma é muito impopular em todo o país, o que se reflete em seus índices de aprovação de quase um dígito, e a grande ira sobre suborno e propinas dentro do partido dos trabalhadores e os protestos de rua regulares exigindo sua deposição”, diz o The New York Times.
“Mesmo assim, alguns brasileiros argumentam que a convulsão pelo impeachment tem menos a ver com a luta contra a corrupção do que com um esforço para transferir o poder pelos legisladores com os próprios registros questionáveis”.