Jornal GGN – Na tentativa de salvar o mandatoparlamentar, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB) renunciou à presidência da Câmara, na tarde desta quinta (7), alegando que assim ajuda a Casa a sair do “caos” que vive sob a gestão do interino Waldir Maranhão (PP). Cunha surpreendeu ao discursar de maneira emocionada, expondo esposa e filha, que também são alvos da Lava Jato. Com a voz embargada, Cunha disse que usaram sua família para atingi-lo.
“Meus algozes não tiveram o mínimo de respeito. Atacaram de forma covarde, especialmente a minha mulher e filha mais velha. Usam minha família de forma cruel e desumana, visando me atingir.”
Em entrevista coletiva, por volta das 13h30, Cunha disse que resolveu atender a apelos de aliados que não vêem traços de liderança forte em Maranhão – que, muitas vezes, não consegue presidir sessões da Câmara. “É publico e notório que a Casa está acéfala, fruto de uma interinidade bizarra, que não condiz com o que o País espera após o afastamento da presidente da República. Somente minha renúncia pode por fim à instabilidade sem prazo”, disse.
Até ontem pela manhã, Cunha negava que deixaria a presidência da Câmara, mas mudou de ideia quando o relator de seu recurso contra a cassação na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) decidiu acolher parte dos argumentos em favor do peemedebista. Só com a renúncia Cunha acredita que pode angariar os votos que precisa na CCJ para fazer seu processo de cassação voltar à estaca zero ou deflagrar outra manobra para abrandar sua pena.
Durante o discurso, ele voltou a dizer que é inocente das acusações que lhe são feitas na Lava Jato. Falou, novamente, em perseguição e na “seletividade do órgão acusador”, sugerindo que a Procuradoria Geral da União decidiu afrontá-lo desde que ele deflagrou o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
“Após a decisão da Câmara de instaurar o impeachment, seis novos inqueritos foram aberto e duas novas denuncias foram apresentadas contra mim, sempre às vésperas de decisões do Conselho de Ética”, disse.
“A história fará justiça. (…) Que esse meu gesto sirva para recompor o caminho que a Câmara dos Deputado estava trilhando na minha gestão, de protagonismo, independência, fiscalização com os gastos publicos e com coragem”, acrescentou.
Mesmo renunciando, Cunha continua impedido de exercer seu mandato pelo Rio de Janeiro, por decisão do Supremo Tribunal Federal.
Nova eleição
Com a renúncia, deputados já falam em convocar a nova eleição para presidente da Câmara para a próxima semana. Cunha pretende emplacar o deputado Rogério Rosso (PSD) como sucessor. Este nome agrada também ao governo interino do presidente Michel Temer.
A renúncia de Cunha também está no contexto de frear uma manobra de Maranhão, que vinha tentando negociar com partidos como PSDB, DEM, PSB e o próprio PT, um nome para presidir a Câmara em seu lugar que não fosse indicado pelo “centrão” – bloco comandado por Cunha e PMDB.
Com a renúncia e a antecipação da eleição, o plano de Maranhão deve fracassar. Além disso, Cunha conta com lobby de Temer e aliados como o senador e presidente do PSDB, Aécio Neves, para emplacar um sucessor de seu interesse. Em troca, o PMDB apoiaria o candidato do bloco PSDB/PSB/DEM para a eleição da Câmara em 2017/2018.