Ricardo Noblat
No melhor estilo Lula, digo que o governo se f*.
Perdeu a primeira batalha em torno do processo de impeachment da presidente Dilma. Simplesmente, não conseguiu fazer a maioria dos 65 membros da Comissão Especial da Câmara dos Deputados encarregada de recomendar a aprovação ou a rejeição do pedido de impeachment.
Como isso foi possível? Elementar, meu caro. Faltou voto para eleger a maioria. E sobrou voto para que Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara e desafeto de Dilma, e a oposição elegessem a maioria.
Na noite da última quarta-feira, Cunha reuniu-se em sua casa com quatro deputados de partidos que dizem apoiar o governo, mas que não apoiam tanto assim: Rogério Rosso (PSD), Maurício Quintella (PR-AL), Jovair Arantes (PTB-GO) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
Ali, a derrota do governo começou a ser esboçada.
Os quatros deputados são aliados de Cunha, que os ajudou a se eleger. A reunião serviu para definir as candidaturas de Rosso e de Arantes aos dois postos mais importantes da Comissão: presidente (Rosso) e relator (Arantes). Os dois lideram as respectivas bancadas dos seus partidos.
Na manhã de ontem, Cunha procurou líderes dos partidos de oposição e fechou com eles o acordo em torno das candidaturas de Rosso e Arantes.
No final da tarde, o líder do governo na Câmara, Josué Guimarães (PT-CE), foi confrontado com o fato consumado: ou também apoiava Rosso e Arantes ou seria derrotado. Sem saída, Guimarães se rendeu para disfarçar a derrota do governo. Cunha e a oposição preferiram não alardear a vitória.
Para agravar a derrota do governo, outros partidos que lhe devotam apoio indicaram para a comissão nomes comprometidos em votar a favor do impeachment. Até o PMDB procedeu assim.
Leonardo Picciani (RJ), líder do PMDB, havia garantido ao governo que indicaria para a comissão cinco deputados contrários ao impeachment, e apenas três favoráveis. Sob a pressão dos colegas, indicou quatro contrários e quatro favoráveis.
Nas contas de líderes de todos os partidos, e também por terem dado declarações a respeito, um mínimo de 35 e um máximo de 39 membros da comissão estão dispostos a aprovar o impeachment.
Tudo dependerá, porém, de como estiver a situação do país quando o relatório da comissão for votado na própria comissão, talvez daqui a 60 dias. Só depois o relatório será submetido ao voto em plenário dos 513 deputados.
Se a situação econômica e política do país parecer-se com a de hoje, ou se tiver piorado, a comissão certamente aprovará o pedido de impeachment. Para ser aprovado depois no plenário, o relatório da comissão terá que atrair o voto de 342 deputados, dois terços do total.