Por inúmeras vezes, falei de ações preventivas para afastar os jovens das teias do narcotráfico. Hoje, abordo outra realidade. Quase tão complicado quanto prevenir a disseminação do uso de entorpecentes é tratar dos dependentes químicos. Falta atendimento gratuito em clínicas especializadas, falta solução efetiva para o problema. De um lado, como evitar que o ex-interno retome o vício depois de voltar para o lar? De outro, como lidar com aqueles que se recusam a buscar tratamento fora de casa?
Pensando nessas questões, apresentei o Projeto de Lei 6737/13 que prevê tratamento domiciliar aos dependentes de drogas. A iniciativa visa facilitar o acesso aos serviços que auxiliam na manutenção da abstinência, assim como combater a reincidência e proporcionar maior eficiência à recuperação.
Apesar de ser considerada uma demanda da saúde, a dependência de drogas e álcool precisa ser entendida não apenas pelos aspectos físicos e fisiológicos, mas também pela dimensão psíquica ou emocional. O cenário a ser analisado inclui fatores sociais, culturais e familiares. O tratamento compreende a atuação de diversas áreas profissionais de forma integrada. Assim, é possível lidar com a dependência química sem a descrença quanto à recuperação.
O acompanhamento domiciliar já é praticado em várias Clínicas-Escola de universidades brasileiras, com resultados animadores. Dependentes e familiares recebem profissionais da saúde em casa, o que resulta em aumento de adesão ao tratamento, início de atendimento aqueles aversivos à ideia de ir até o hospital, aumento do tempo de abstinência e diminuição de reincidência.
A elaboração do projeto surgiu de uma sugestão de amigos, Carlos Yaguinuma e Akemi Yaguinuma, ambos moradores de São Paulo, que chamaram a atenção para a ineficácia das ações públicas dirigidas aos dependentes, concentradas em internações hospitalares. Apesar de necessária em muitos casos, a hospitalização vem sendo considerada insuficiente. Faz-se necessária, após a alta, a adoção dos tratamentos que auxiliam na manutenção da abstinência, por meio de estratégias como a farmacoterapia, psicoterapia e reabilitação social.
O tratamento domiciliar tem o mérito de possibilitar o envolvimento direto dos familiares no processo de recuperação. O dependente químico sente a responsabilidade de se esforçar e sabe que conta com o fundamental apoio da família para sair vitorioso da árdua luta contra as drogas. Esperamos contar com a ajuda dos parlamentares para aprovar esse projeto.
* Junji Abe é deputado federal pelo PSD-SP