‘Eleitor quer ouvir Serra, não Kassab’

Prefeito diz que candidato tem de aparecer na TV, e não ele; presidente do PSD afirma que não será ministro até 2014

FELIPE FRAZÃO
O Estado de S.Paulo

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), disse ontem não querer aparecer na campanha de rádio e TV de José Serra (PSDB). Apesar de sua gestão ser mal avaliada pela população, Kassab acredita que o programa eleitoral do tucano “vai mostrar o que foi feito” pela administração e, com isso, seus índices de aprovação vão melhorar. O prefeito também diz que “seria uma honra”, mas não aceitaria ser ministro do governo Dilma Rousseff.

Como será a participação do sr. e o uso de sua imagem na propaganda eleitoral de José Serra?
Quem tem de aparecer é o candidato. Eu sou prefeito, sou um de seus apoiadores. Não acho que eu deva estar ao seu lado. Minha preocupação é governar São Paulo.

Mas o sr. gostaria de aparecer? Têm de aparecer sua imagem ou os programas da administração, seus feitos de governo?
Não. O que tem de aparecer são as propostas do candidato. Ele é que vai mostrar o que ele pensa em fazer nos próximos quatro anos. Ele que deve aparecer.

Não existe outra preocupação que não seja apresentar o candidato. As pessoas não vão votar no Kassab. Vão votar no Serra. As pessoas querem ouvir o Serra, não o Kassab.

Por que a avaliação do sr. tem sido baixa nas pesquisas?
A pesquisa é importante durante a campanha de rádio e TV, porque as pessoas começam a tomar conhecimento do que foi feito. Hoje a imprensa mostra mais os problemas do que as realizações. É o papel da imprensa. E o da campanha é dar oportunidade para o candidato do governo apontar o que fez. E o da oposição, o que não foi feito. A avaliação é mais verdadeira e próxima do que sente o eleitor após a campanha começar.

Sua avaliação vai melhorar?
Acho que sim. Vamos deixar a cidade preparada para grandes transformações no campo social e na infraestrutura. A Nova Luz, o prolongamento da Avenida Roberto Marinho, o fim do terceiro turno (nas escolas), a duplicação dos equipamentos de saúde, a Cidade Limpa. A cidade será diferente e melhor.

Por que o sr. se dá nota dez?
A avaliação verdadeira quem vai fazer é o eleitor na campanha. As manifestações são no sentido de homenagear os secretários, os colaboradores, pelo trabalho, determinação e espírito público.

Qual foi o objetivo do seu encontro com (o presidente do PRB) Marcos Pereira e Serra?
Tenho uma base no governo e há partidos que não estão com a candidatura do Serra. O PSB não está apoiando e é um grande aliado. É assim com o PRB, o PC do B, que está apoiando outro candidato e está no governo. Não tem por que eu não incentivar o meu candidato a conversar com todos. A conversa foi de rotina. Não foi eleitoral. É bom para o Serra, para o PRB, para o PSD. Nós temos tido conversas com outros partidos, não só com o PRB.

Mas o que saiu da conversa?
A contribuição é o diálogo. A existência do diálogo é muito em si. Na conversa falou-se sobre tudo. Não é acordo.

Falou-se sobre eleição?
Sobre tudo, a cidade, o Estado, economia. Cada partido tem seu candidato e não se falou sobre eleição propriamente dita.

Qual o projeto de poder do PSD? Aonde a sigla vai chegar?
Vamos ter um resultado incompatível com nossa dimensão política. Na maioria das cidades, deixamos nossos candidatos em partidos aliados por conta dessa insegurança em relação ao tempo de rádio e TV.

O PSD quer lançar candidato ao governo estadual em 2014?
No partido a pessoa com maior dimensão no Estado é o vice-governador Guilherme Afif. Na medida que temos uma participação, não tem por que a manutenção da aliança (com o PSDB) não ser avaliada no momento adequado.

O sr. se lançaria ao Palácio dos Bandeirantes?
Eu não posso me lançar, um candidato majoritário não é fruto de uma decisão pessoal. Mas eu me sentiria muito feliz se tivesse a oportunidade de ser governador do meu Estado.

O PSD vai integrar a base do governo federal em 2013?
O partido será independente até 2014. Temos quadros que participaram da campanha da presidenta Dilma. E outros que participaram da do Serra, como eu. Isso não impede a presidenta Dilma de convidar, quando quiser, um quadro do partido para ser ministro, que pode aceitar em seu nome pessoal.

O sr. aceitaria?
É difícil. Sou presidente do partido e se virasse ministro perderia a independência. Mas o partido tem outros quadros: o Afif, a Katia Abreu, o Henrique Meirelles. Seria uma honra ser ministro da Dilma. Mas não acho adequado. Temos compromisso de manter a independência até 2014. Se em 2014, nosso candidato vencer a eleição e eu analisaria a questão.

O sr. acha que a senadora Kátia Abreu aceitará o convite de Michel Temer para se filiar ao PMDB?
Espero que não. Tenho respeito pelo Temer e pela Kátia. O PSD se tornou grande. Sempre que tomarmos posição haverá divergência. Em alguns momentos serei minoria, vou divergir e acatar a vontade da maioria.

De quem foi a culpa fim da aliança do prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB)?
Não serei injusto de atribuir ao PSDB, nem tenho informações. Mas o PSDB poderia ter evitado.

A pré-candidatura de Aécio Neves (PSDB) a presidente influenciou a decisão do PSD?
Influenciou, porque ele é o provável adversário da presidenta Dilma. Havia um entendimento de os dois partidos (PT e PSDB) caminharem juntos que acabou.

O sr. acha que o PSDB nacional e de Minas teme o crescimento do PSD e o alinhamento com a presidente Dilma?
Acho que o PSDB tem que cuidar do PSDB. Um partido que começa a olhar muito para o lado é um partido que não acredita em si próprio. O PSDB tem que buscar seu espaço, seus projetos, apoiar seus gestores. E o PSD da mesma maneira.

A intervenção agradou à presidente Dilma?
Agradou, porque acho que foi uma decisão correta. Não falei com ela. Não fiz isso pensando em reconhecimento.

Por que em São Paulo foi tratado localmente, e em Minas não?
São Paulo não era uma questão nacional. Em Minas, o Aécio Neves é o adversário provável da presidenta Dilma. É uma questão nacional.

Mas o Serra diz que a eleição de São Paulo é nacional.
Desculpe, o Serra não é mais candidato a presidente da República. Quando ele assumiu a candidatura a prefeito, ele abandonou o plano nacional.

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